Crônicas

O ofício de escrever


Por Vanessa Sene Cardoso

Hoje é o dia do escritor. Pensei em redigir um artigo para marcar a data refletindo um pouco sobre a importância da escrita, mas logo mudei de ideia. Sabe por quê? Porque as palavras servem para dar vida e expressar pensamentos, conceitos, conhecimento, arte... Como escolhi o ofício de contar história, por meio da escrita, decidi compartilhar a minha, de como ingressei nesse ofício.

O meu amor pela leitura e pela escrita vem da infância. Sempre recebi muito incentivo do meu pai, que também gosta muito de ler e, quando jovem, se arriscou nas letras, especialmente, na poesia. Quando cheguei à adolescência, escolhi o curso de jornalismo. Já na vida adulta passei a sentir um desejo grande de me tornar escritora, mas enfrentei um dilema: escrever sobre o quê. Pensei em várias possibilidades: literatura infantil, reflexões sobre a vida cristã, conteúdo específico sobre a área de comunicação. Tudo isso é muito legal e já escrevi sobre esses assuntos. No entanto, eram temas para artigos, reflexões, textos curtos. Queria escrever livros. Falei da minha ansiedade e dúvidas para Deus, e pedi que ele me orientasse nessa questão. Descansei crendo que, no momento certo, receberia a direção.

Em fevereiro de 2009, recebi o convite para escrever a biografia do Pr. Messias Anacleto Rosa. Foi um desafio e tanto! A partir de então, descobri que gosto de contar histórias. Em 2015, criei meu blog Limoeiro, onde escrevo sobre vários assuntos. Em 2018, lancei meu selo Limoeiro Produções Literárias, com a finalidade de produzir livros. Tenho três publicações, e estou com dois projetos em andamento. Ser escritora é algo que traz muita alegria ao meu coração!

Para todos que exercem esse ofício, desejo um feliz dia do escritor!

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Birra!


Por Vanessa Sene Cardoso

Vivemos em uma sociedade onde impera o “aqui e agora”. Muita gente tem dificuldade em respeitar limites, se submeter a regras, seja em qualquer ambiente.

Duas amigas se encontram na igreja

Oi, Maria, tudo bem?
Tudo bem, e você?

Tudo ótimo.
Você vai participar do curso “Como estabelecer limites para os filhos”?
Curso? Não estou sabendo.
Sério! Você não tem ido aos cultos? Há três semanas que está sendo divulgado na Igreja. Inclusive, as vagas são limitadas. Quando fiz a minha inscrição restavam poucas.
Sabe, Celeste, quero fazer esse curso porque tenho enfrentado problemas com meus filhos. Eles não aceitam regras, desobedecem. Não entendo o porquê disso.

No outro dia

Bom dia, eu vim fazer a inscrição para o curso “Como estabelecer limites para os filhos”.
Que pena! Não há mais vagas.

Como não há mais vagas?! Eu preciso participar desse curso.
Sinto muito, mas as vagas estão esgotadas. Na sala que temos para a realização desse evento é possível acomodar um número limitado de pessoas, apenas 100. Nós temos uma lista de espera, vou acrescentar o seu nome. Mas fique tranquila, esse curso será oferecido no mês que vem. Se não der para participar dessa vez, você terá outra oportunidade.
Você não está entendendo, minha filha, eu preciso fazer esse curso AGORA. É só colocar mais uma cadeira na sala.
Isso não é possível, pois há vinte pessoas na lista de espera; se houver desistências, nós temos que encaixar as pessoas respeitando a ordem na lista.
Isso é um absurdo! Eu vou falar com a liderança, tenho certeza que vou conseguir uma vaga. Você sabe quem eu sou? Vou participar desse curso de qualquer jeito.

Considerações

A história acima é apenas uma ilustração, no entanto serve para reflexão sobre a nossa postura e atitudes nas mais diferentes circunstâncias da vida. A personagem Maria quer participar do curso “Como estabelecer limites para os filhos” porque está enfrentando dificuldades em sua casa, mas ela não se dá conta de que também não consegue respeitar os limites que lhe são impostos (não há mais vagas). A indisciplina dos filhos pode ser um reflexo de sua própria conduta.

Quando nos deparamos com uma criança birrenta, somos rápidos em ficar irritados, em julgar e realmente é algo desagradável. Mas se considerarmos que ela está no início da vida e, muitas vezes, não entende por que está sendo contrariada, torna-se mais fácil lidar com a situação. E quanto aos adultos birrentos? Qual nossa atitude quando as coisas não acontecem como gostaríamos? E quando recebemos um “não”?

À medida que a criança cresce e aprende a se relacionar com outras pessoas, vai percebendo que não é o centro do mundo. É um processo natural de amadurecimento. Mas há adultos que ficam prisioneiros na imaturidade por medo de enfrentar a dor do crescimento. O próprio Jesus nos deu o exemplo: Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu (Hebreus 5.8). Que tal sair da zona de conforto? Sinta-se encorajado pelo amigo Jesus a enfrentar os seus medos. Ele abriu o caminho. Vamos em frente!

Para quem já avançou um pouco mais, aproveite as oportunidades para exercitar a tolerância: Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas (Mateus 5.41).  

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Ser tia


Por Vanessa Sene Cardoso

Tenho ótimas lembranças da minha infância e grande parte delas está relacionada com a família, não só o núcleo – pai, mãe, irmãos – mas avós, tios, tias, primos, primas. Hoje quero falar de tias e tios. Vamos lá! Imagine as cenas a seguir.

 

A garotinha, que não tinha mais do que cinco anos, olhava fascinada, sem piscar, a tia se arrumar para sair. Depois de finalizar a maquiagem, ela agachava e coloria a boca da sobrinha com brilho labial. A menininha achava o máximo! O gostinho de morango ainda permanece na memória mais de quarenta anos depois.

 

Pular elástico era a brincadeira do momento. A sobrinha foi ensinar a técnica ao tio. Resultado: uma cicatriz na testa dele, que anos mais tarde, com a sobrinha já adulta, exibia, cheio de orgulho. Motivo de boas recordações.

 

O telefone tocava e, do outro lado da linha, a voz firme da tia que sempre queria saber como iam os estudos da sobrinha. Era aquela que vibrava, embora de maneira contida, porém interessada, com as conquistas acadêmicas da menina.

 

Ah! E aquela viagem de trem que foi uma aventura na companhia dos primos, todos adolescentes, quem proporcionou?! A tia, que sempre tinha uma pitada de humor, fazendo daquela excursão um momento inesquecível.

 

Aos 20 anos, junto com a prima também jovem, foi conhecer uma praia em outro estado do país. Sol, mar, passeios incríveis, com direito a muita diversão e boas risadas. Quem levou as sobrinhas? A tia.

 

O tio, que morava distante, toda vez que vinha visitar a família trazia presentes para os sobrinhos. Como não podia ser diferente, os olhinhos da sobrinha, que ainda era muito pequena, brilhavam diante do carinho e dos mimos do tio.

 

Todo sábado o tio lavava o fusca azul. A sobrinha ao ver essa cena sabia que era prenúncio de passeio.

 

A tia, escritora de peças teatrais e excelente comunicadora, compartilhava os textos com a sobrinha. Uau! Quanta admiração! Com certeza serviu de referência na jornada profissional da garota.

Essas são apenas algumas lembranças, uma pequena amostra da importância dos tios e tias na vida de uma sobrinha. Há muito mais para contar, o que exigira tempo e espaço para narrar tantas histórias. Com certeza, fui agraciada!

A bolinha de queijo saborosa, as dicas domésticas, os presentes, as conversas enriquecedoras, as confidências, as risadas, as brincadeiras, o silêncio significativo, o abraço, o consolo, as orações, as advertências, as recordações, a presença, o amor... Essas joias formam o tesouro, cujo valor não é possível mensurar. Sendo adulta ainda desfruto da bênção de ser sobrinha.

Minhas tias são referências na minha vida. Com elas aprendi que é um privilégio e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade exercer esse papel na família. Desejo e busco de todo o coração ser bênção na vida de meu sobrinho e minhas sobrinhas. Eles são presentes que recebi de Deus. Sou muito grata por tê-los em minha vida.

Amo ser tia!


21 de setembro: dia do tio e da tia.




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Mulher e as fases da vida


Por
Vanessa Sene Cardoso 

“É uma menina!” A partir daí, já começam os preparativos, os planos, sonhos e expectativas para a nova integrante do mundo feminino. Quem já recebeu essa notícia ao deixar a sala de ultrassonografia, ou após o parto, sabe do que estou falando.

Cada gênero tem suas peculiaridades e, por mais que os tempos atuais proponham uma série de conceitos sobre o tema, ainda prevalecem as características inerentes aos universos feminino e masculino. As novas roupagens e artifícios não são capazes de transformar a essência. Fato!

Criança é criança. Na infância, meninos e meninas querem brincar, se divertir, exercitar a imaginação. Necessitam, basicamente, de um teto, alimento, roupas, proteção, segurança, cuidado, presença, exemplo, enfim, amor. Nessa fase, exceto pelas características fisiológicas, as semelhanças predominam sobre as diferenças.

Quando chega a puberdade, a coisa muda de figura. Os hormônios têm protagonismo nessa fase da vida, pois eles dão o tom para ressaltar as diferenças entre os gêneros, tanto física quanto emocionalmente. O assunto desta reflexão são as mulheres, por isso, nos despedimos dos homens por aqui.

Agora é só entre nós, meninas!

Me conta uma coisa: Você já teve a menarca? O QUÊ? Esse evento é um marco na vida de toda mulher, pois é o prenúncio de uma nova fase. É a transição da infância para a vida adulta. Não se preocupe! Você não vai dormir menina e, após a primeira menstruação, acordar mulher. É um processo! Quem já está nessa caminhada há algumas primaveras pode testemunhar as mudanças no corpo, e também as alterações de humor. Para as calouras, trata-se da famosa TPM (Tensão pré-menstrual). Quando ela chega, dá vontade de chorar até mesmo sem motivo. Outro efeito é a irritação que faz com que um simples “Bom-dia” seja o estopim para a terceira guerra mundial. Ah! O exagero também é típico da adolescência. E tem mulher que passa incólume por tudo isso. Cá entre nós, acho que a minoria.

Escrevi o parágrafo anterior pensando nas pré-adolescentes, como você percebeu. No entanto, conforme o dito popular, “recordar é viver”. Durante, pelo menos, quatro décadas, navegamos no mesmo mar, algumas vezes sem ondas, na maré mansa; outras, com maremotos.

Agora, quero falar de outra fase da vida que, para algumas de nós, é um “calcanhar de Aquiles”, ainda que temporário. Aqui, novamente, os hormônios roubam a cena. A natureza tem seus mistérios. Como algo que nem enxergamos consegue desestabilizar nosso organismo?! Aguenta firme! Porque, passada essa fase, tudo se ajeita e adapta-se à sua nova condição. É hora de uma pausa, menopausa, mudança de ritmo. Fique atenta para não perder o compasso.

A maturidade chega com a sua bagagem: equilíbrio emocional, contentamento, autoconhecimento, desconfortos novos... Enfim, a vida é cheia de perdas, ganhos, desafios e muito aprendizado. Vale muito a pena! Ainda mais se tivermos intimidade com o Espírito Santo: Tu me mostras o caminho que leva à vida. A tua presença me enche de alegria e me traz felicidade para sempre (Salmos 16.11 – NTLH).

Sugiro um exercício: pare um pouco, pense na fase da vida em que você se encontra, desabafe em uma folha em branco ou bloco de notas digital. Não importa se você não é íntima das letras: ESCREVA. Isso ajuda a gente a se perceber. Vai por mim! Depois me conta como foi a experiência.

Dedico esse texto a todas as mulheres, em especial a uma mocinha que está completando mais um ano hoje. Parabéns, Ana Luisa! Que você aproveite, ao máximo, cada fase da sua vida e continue escrevendo uma linda história que seja inspiração para outras mulheres.


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 Tenha bom ânimo




Por Vanessa Sene Cardoso

Fim de ano, na maioria das vezes, requer uma retrospectiva ou reflexão sobre os doze meses que se passaram. Decidi fazer uma analogia de 2020 e as etapas da vida. Aliás, ela passa em um piscar de olhos, assim como o ano.

Infância

A infância é a fase da imaginação, da fantasia. Quando eu era criança, costumava criar histórias, personagens com os quais conversava, e que povoavam as minhas brincadeiras solitárias. Nos momentos coletivos, o elenco exclusivo ficava quietinho dentro do meu universo particular. Junto com outras crianças, a coisa mudava de figura, ou melhor, surgiam novos personagens e invenções.

Brinquei e criei muito na infância. Um simples tapete cobrindo duas hastes de madeira encostadas no muro do fundo do quintal, e uma bacia de lavar roupa no gramado se transformavam em uma casa com piscina – a coqueluche dos anos 70 e 80. Tudo parecia grande e real. As bonecas tinham nome e, para mim, eram filhas, sobrinhas, irmãs...tinham vida própria.

Quando o ano começa, normalmente, é assim. E 2020 não foi diferente. Ficamos como crianças esperando por algo novo, surpreendente; basta observar o comportamento, as reações das pessoas na passagem do ano. Penso que até os mais pessimistas, lá no fundinho, têm expectativas e trazem à tona aquela velha criança, meio empoeirada, com algum mofo, cheirando naftalina; talvez meio sem vida, como as bonecas abandonados na adolescência. Mas ela está lá no interior.

Adolescência

A adolescência chega de repente. O corpo fica estranho, os hormônios desconfiguram a imagem diante do espelho: espinhas na testa; boca, nariz, orelhas ENORMES; e no caso dos meninos, ainda tem a voz que, em um segundo, sobe e desce uma oitava; os sentidos parecem ficar mais aguçados, e desordenados. Isso sem falar no turbilhão emocional. Para as meninas, em especial, tudo é intenso, ganha novas proporções: “Minha melhor amiga”, “Odeio cebola”; “Se eu tirar nota vermelha, morro”; “Pareço uma baleia”. Quem nunca?!

Descobrimos um mundo abstrato que nos suga da concretude da infância. A inocência se depara com a realidade. Queremos romper com a etapa anterior. Essa é a fase do conflito, do confronto, das dúvidas, dos questionamentos. A transição da infância para a vida adulta é um tempo marcado pela instabilidade. Parafraseando um adolescente, é o CAOS. Temos crise de identidade, inadequação; surgem os rótulos, apelidos.

Falando assim, parece não ter nada de bom. Mas quem já passou por essa fase sabe o quanto é divertido. A gente ri à toa, se apaixona, descobre como é legal fazer parte de uma turma, começa a conquistar autonomia, descobre tanta coisa nova.

A adolescência de 2020 começou em março. Quem imaginaria que, do dia para noite, nossa rotina, a sociedade, o mundo virariam de cabeça para baixo?! A pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos desestabilizaram nossa vida, mudaram nossos hábitos, nossas relações, nossa comunicação. Ufa! Esse tema já foi abordado à exaustão.

Juventude

A juventude é a fase da sensação de invencibilidade. EU TENHO A FORÇA! Escolho minha carreira, conquisto a independência, sou o dono do meu nariz e da verdade. Para que ouvir o conselho dos mais velhos?! Eles estão por fora, ultrapassados – permitam-me essa pitada de exagero, ok?

Em maior ou menor escala, o jovem não se liga muito no passado, que é recente; e também não se imagina no futuro, embora faça planos. O que importa é o “agora”. Afinal, é uma fase de muito vigor, sonhos, desejos. Há muita energia para gastar, falta apenas o fio para conduzir e canalizar essa energia. Isso vem com o tempo e a experiência. Essa é a hora de quebrar a cara. Ainda dá tempo de recomeçar. A juventude é linda. Vigor, boa aparência física, muitas oportunidades pela frente.

Depois do turbilhão provocado pela pandemia, que deixou tudo fora do lugar, nos deparamos com novas possibilidades de fazer as coisas, reinventar o cotidiano, eis aí uma característica típica da juventude: inovar; desconstruir para depois reconstruir de outra forma. Tivemos que mudar nossos hábitos, comportamento, forma de comunicação.

Maturidade

Quando chegamos à fase adulta temos a convicção de algo que até então era uma suspeita: a vida é difícil. Nem tudo é possível; o fracasso e a frustração fazem parte do script; não existe príncipe encantado; as contas para pagar não falham; temos limitações; o controle é uma ilusão...

Como em cada etapa, a maturidade tem suas compensações. Adquirimos sabedoria com as experiências; entendemos que tudo passa; atingimos um estado de contentamento e conforto em ser quem somos, pois passamos a nos conhecer melhor; a opinião dos outros a nosso respeito perde força de comando; nossas emoções trocam a montanha russa pelo trenzinho; percebemos que, muitas vezes, a paz tem mais valor do que a razão. Experimentamos a liberdade.

E 2020 termina com algumas frustrações, sonhos abortados, planos não realizados, perdas; mas, como na maturidade, rico em aprendizado. Para mim, o saldo é positivo. Deixo a bola quicando para você... Reflita. É um bom exercício!

2021

Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo (João 16.33).

A palavra de Jesus para nós hoje e no ano que se inicia é TENHAM BOM ÂNIMO. Não tem como evitar as intempéries da vida. Mas, em Cristo, encontramos a paz que não depende de circunstâncias. PAZ é o que desejo para você.

Feliz Ano Novo!

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No cantinho pra pensar




Por Vanessa Sene Cardoso

 “Agora você vai ficar ali no cantinho pra pensar”. Quem já recebeu essa ordem? Ela é ou, pelo menos, era comum na escola, em casa quando na infância fazíamos alguma “arte”, desobedecíamos, desrespeitávamos pai, mãe, ou outra figura que representava autoridade.

Como as crianças – boa parte delas – depois de algum tempo paradas começam a ficar inquietas, “o cantinho do pensamento” acaba sendo uma forma de disciplina, embora para algumas seja apenas um castigo mesmo. Tudo depende do ponto de vista, de como a experiência é assimilada.

Nos últimos dias, o cenário mundial, em decorrência da Covid-19, tem proporcionado o ambiente ideal para reflexão. A prática do distanciamento social colocou grande parte da aldeia global no cantinho do pensamento. Quando poderíamos imaginar que um inimigo invisível aprisionaria milhões de pessoas dentro de casa?! Sem trancas, sem algemas, no entanto, impedidas de ir e vir.

Nenhum arsenal bélico, nem tecnologias de ponta até agora foram capazes de vencer essa guerra. Creio que estamos no caminho, vai ter um fim, mas enquanto isso...

O mundo parou. Silêncio. Uma oportunidade para rever as prioridades. Nos dias de hoje somos consumidos pela correria cotidiana, pelas demandas da vida pós-moderna, pela velocidade das informações, pela dependência do ambiente virtual. Temos tantas ferramentas em mãos, que é muito fácil nos acharmos superpoderosos. De repente, em questão de semanas, fomos surpreendidos por uma circunstância que nos tirou o controle da situação, ou melhor, a enganosa sensação de controle.

Muitos de nós estamos tendo que enfrentar a nós mesmos, lidar com os relacionamentos, olhar com mais atenção para quem está próximo. Como vamos encarar esse momento? Talvez para você esteja tudo normal. Mesmo assim, vale a pena o exercício da reflexão. Como temos conduzido nossa vida? O que está legal e o que precisa de um novo rumo? Quais são nossos sonhos? Vamos aproveitar essa chance em que nos vemos obrigados, de certa forma, a dar uma pausa na rotina acelerada, e pensar, planejar, colocar ordem no mundo interior, ou relaxar mesmo. Há quanto tempo você não fica sem fazer nada?

Se no dia a dia nos dividimos entre os mundos real e virtual. Agora a balança está pendendo mais para o segundo. Estamos operando no ambiente e no modo digital. A conexão diminui as distâncias e facilita a comunicação. Realmente, o mundo parece uma aldeia em que os povos, independentemente de suas peculiaridades, vivem a mesma experiência. Sendo assim, podemos nos sentir no mesmo barco, ótima oportunidade para o exercício da solidariedade e da empatia.

Diante de tudo isso é reconfortante saber que: Os olhos do SENHOR estão em todo lugar (Provérbios 15.3). É ele quem faz mudar os tempos e as estações; é ele quem põe os reis no poder e os derruba; é ele quem dá sabedoria aos sábios e inteligência aos inteligentes (Daniel 2.21-23 – NTLH). Deus tem tudo debaixo de suas mãos e do seu controle. Ele é quem coloca ordem no caos, conforme os seus propósitos.

É tempo de recolhimento. Mas logo estaremos liberados do cantinho do pensamento.

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Dia do Jornalista


Foto publicada no Jornal de Londrina em 31.05.2000
Por Vanessa Sene Cardoso


7 de abril: Dia do Jornalista. A data foi instituída em 1931, por decisão da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), como homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, morto por inimigos políticos em 1830. Ele fazia oposição ao imperador D. Pedro I. 

Como minha história no jornalismo começou...

Dos 16 para os 17 anos, época em que me preparava para o vestibular, confesso que, como muitos adolescentes, tinha dúvidas sobre a profissão que escolheria para a vida adulta. Sabia apenas, por eliminatória, que seria na área de ciências humanas. Uma amiga me convidou: "Vamos fazer comunicação social!" Sem saber muito bem do que se tratava, pensei, perguntei para Deus e decidi. Fiz a inscrição para o vestibular da Universidade Estadual de Londrina para o curso de Comunicação Social - Jornalismo.

Até então, minha decisão tinha sido tomada por uma convicção subjetiva, pois não tinha conhecimento e vivência sobre o que era e quais as implicações de ser uma jornalista. No primeiro dia de aula tive contato com os colegas; um mundo novo se abria à minha frente e veio a primeira decepção: “Você tem cara de quem faz odontologia”. Esse comentário de um colega, além de me chatear, me fez refletir: Que cara tem um jornalista?

Percebi que eu não me encaixava muito bem no estereótipo do estudante de jornalismo. Não era “bicho-grilo”; não era engajada em movimentos estudantis; por causa da timidez, tinha dificuldade de me expressar em público. Ou seja, na minha visão imatura e distorcida, jamais poderia seguir nessa profissão. Durante os anos de faculdade, enfrentei algumas crises internas e externas. Certa vez uma professora me questionou: “Você tem certeza que quer ser jornalista?
 Só não desisti do curso porque dentro de mim havia a certeza de que tinha feito a escolha certa, embora não soubesse muito bem onde isso ia dar. Em nenhum momento assumi a posição de vítima, pois os confrontos me fizeram enxergar que precisava crescer, me desenvolver. Foi um tempo de muito aprendizado na área acadêmica, mas, principalmente, na vida pessoal.

Terminei o curso, e alguns dias antes da formatura, estava em casa e, olhando através da janela, não consegui conter as lágrimas. O que vai ser daqui para a frente? 

Deus foi muito bom comigo e as portas foram se abrindo, fui enfrentando os desafios, vencendo a insegurança, me aperfeiçoando, ganhando experiência. A cada erro ou fracasso, quando pensava em desistir, ouvia do meu pai: “Só erra quem faz”. Essa afirmação me acompanha ao longo de todos esses anos. Trabalhei em rádio, como redatora e editora; como repórter de TV; produção de matérias para jornais e revistas; produção e gerenciamento de conteúdo para internet; assessoria de imprensa; assessoria de comunicação; escrevi um livro; tenho projetos em andamento; e o meu Blog Limoeiro, onde planto minhas ideias.

O jornalista é um profissional que transforma fato em notícia. Suas ideias são codificadas pelas palavras (escrita e oral), imagens, sons, gestos. Na faculdade fui ensinada que o jornalista deve ser imparcial; na prática aprendi que esse conceito não se sustenta. O simples fato de existir a função de editor já derruba por terra a imparcialidade. Dependendo da ótica, histórico, cultura, crenças e filosofia de vida do profissional, a verdade pode acabar se tornando uma versão. É claro que a ética pessoal e profissional nos faz buscar uma aproximação com a verdade dos fatos. 

Hoje, três décadas depois de tomar uma das decisões mais importantes da minha vida, não me arrependo. A convicção que na época era subjetiva, com o passar do tempo, se tornou objetiva no exercício da profissão. Tenho um longo caminho pela frente de aprendizado, novas descobertas, mas de uma coisa estou certa: Se tivesse que escolher uma profissão hoje seria o jornalismo.

Ah! Minha amiga que sugeriu o Curso de Comunicação Social foi fazer Direito.

Aos meus colegas de profissão, a minha homenagem. Feliz Dia do Jornalista!

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Tia do cafezinho = proatividade


Por Vanessa Sene Cardoso

Convido você a exercitar sua memória ou imaginação! Pense em uma personagem popular que está sempre presente e tem livre trânsito em diferentes locais, como ambientes comerciais, repartições públicas, residências e outros. Estou falando da “tia do cafezinho”. Quem se lembra ou poderia contar alguma história em que ela seja protagonista ou coadjuvante?

Eu tenho! Vamos lá!

– Preciso entregar um convite em mãos – diz minha amiga a uma funcionária que encontrou no corredor do órgão público.  

Era fim da manhã. Muitos servidores já estavam em horário de almoço, inclusive o chefe da repartição, que era o destinatário da correspondência.

Minha amiga não poderia ficar esperando. O que fazer? Eis que a funcionária se dirige a ela:
– Acho que a Lourdes pode ajudar. Venha comigo!

As duas seguiram à procura de quem teria condições de dar um jeito na situação naquele momento. Alguns minutos depois, encontrou sua provável emissária:
– Fique tranquila, vou colocar o convite em cima da mesa dele.

Duas semanas depois...

Chegou o dia do evento. Eu estava recebendo os convidados e um homem se dirigiu a mim, apresentou-se. Na hora me lembrei da Lourdes. Já entenderam de quem se tratava, não é? Pensei: Quanta eficiência e proatividade! Afinal, ela trabalhava na copa e zeladoria e não fazia parte das suas atribuições entregar correspondência.

Um amigo meu, também jornalista, na empresa em que trabalhou por muitos anos, fazia parte da editoria política, sendo responsável pela cobertura da prefeitura e câmara de vereadores da cidade onde morava. Por ser uma pessoa muito relacional, sempre teve facilidade em puxar conversa, fazer amizades e obter informações relevantes. Muitas vezes, a “tia do cafezinho” era uma de suas principais fontes, pois ela tinha trânsito livre nos gabinetes. E como, em alguns casos, por sua discrição, era sequer notada, acabava ouvindo assuntos tratados em encontros a portas fechadas, afinal reunião sem café não é reunião.  

Uma ressalva: Minha intenção neste artigo não é entrar na questão ética da funcionária pública e do jornalista. Mas, sim, fazer um contraponto sobre “cumprir o protocolo” e “agir com iniciativa”. Nessa reflexão me refiro à “tia do cafezinho” como símbolo de eficiência e proatividade.

Quando cumprimos nossas tarefas a contento somos eficientes, pois eficiência é fazer certo as coisas. A questão é que, muitas vezes, paramos aí. O episódio que compartilhei no início do texto não traz nada de extraordinário. A personagem viu a necessidade da minha amiga e buscou uma solução. Simples assim!

É preciso olhar fora do quadrado! Estar sensível às necessidades de quem está perto. Olhar para o bem-estar geral é uma atitude que faz toda a diferença. Ações simples podem se tornar relevantes no contexto em que estamos inseridos, facilitando a comunicação, melhorando a execução de tarefas do dia a dia, remindo o tempo e deixando o ambiente mais aconchegante.

Dedico esse texto a essa profissional que é conhecida carinhosamente como a “tia do cafezinho”.

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Amor por Londrina





Por Vanessa Sene Cardoso
Fui fotografada por meu irmão Eduardo Sene Cardoso

Aos cinco anos deixei minha terra natal, Cornélio Procópio, no Paraná. Devido ao trabalho do meu pai, durante a minha infância, nossa família morou em quatro cidades. Todas têm um significado especial, fazem parte da minha história e deixaram lembranças marcantes para o resto da vida.

A cada mudança, como é natural, passava pelo período de adaptação, e as cidades onde morei, embora todas no Brasil, tinham costumes e culturas muito diferentes. Na escola, eu era quase sempre a novata da turma; os colegas de classe, na sua maioria, já se conheciam, tinham laços entre si, pois tinham passado a vida toda na mesma cidade. Depois de um tempo, quando já estava adaptada e tinha construído amizades, era surpreendida pela notícia: vamos mudar.

Nessa primeira fase de vida, um dos meus sonhos era criar raízes em uma cidade, sentir que pertencia àquele lugar. Deus conhecia o desejo do meu coração. E ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos (Efésios 3.20), segundo a sua vontade, é claro! Pois tem o melhor para seus filhos e filhas. Não sabíamos, mas isso estava nos planos de Deus para nossa família...

No dia 28 de julho de 1988 – mal sabia que essa data marcava o início da concretização do meu sonho de infância  nos mudamos para Londrina. Já era adolescente. Desde o primeiro momento senti como se estivesse voltando para casa. Eita cidade acolhedora! Conheço muitas pessoas que vieram para cursar a universidade e acabaram ficando por aqui. Na maioria das vezes, o discurso é uníssono: “me considero cidadão londrinense”. Faço parte dessa turma!

Sou londrinense de coração! Já passei bem mais da metade da minha vida nessa terra roxa, vermelha... colorida. É isso! Londrina é uma cidade de contrastes, começando pelas cores. Quem já observou o céu no fim de tarde sabe do que estou falando: o matiz é fantástico! A paisagem é linda. O lago Igapó, ainda que artificial, cortando nossa “pequena metrópole”, traz vida em meio à “selva de pedra”. O cenário rural, o café, as perobas majestosas, a vegetação, os ipês e manacás que vestem as ruas por onde passamos apressadamente, nosso clima, manifestações e produções artísticas... Temos aqui também um caldeirão cultural. Pioneiros de diferentes nacionalidades vieram para construir um local para viver. Somos herdeiros dessa diversidade que faz de Londrina uma cidade aberta e receptiva aos “estrangeiros” e “peregrinos”.

A pequena Londres cresceu rápido, é um polo no norte do Paraná, mas não perdeu as características de uma cidade interiorana. As pessoas se conhecem, se encontram no mercado, no shopping, no calçadão, no Zerão, no cinema, na feira da Lua, nas praças...

Aqui ganhei muitos amigos! Tesouro inestimável e inesgotável!

Poderia escrever páginas e páginas sobre essa cidade, mas sou suspeita para falar. Talvez para alguns essas palavras não correspondam à realidade. Pode parecer exagero! Não importa, neste momento a emoção é a razão da minha expressão. 

Embora as palavras sejam recursos eficientes para expressar o que sentimos e pensamos, muitas vezes não conseguem fazê-lo. Termino esse texto com os olhos marejados, a voz embargada, e o coração cheio de contentamento e gratidão a Deus por essas três décadas vivendo aqui. Sou pé-vermelho!

Essa é minha declaração de amor por Londrina!










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Tem boi na linha



Por Vanessa Sene Cardoso

Dias atrás, combinei com uma amiga de visitar uma feira de produtos orgânicos. O que seria algo simples e corriqueiro, para nós se tornou uma aventura. Vamos comigo!

Outra amiga – vou chamá-la de Renata – que já havia ido à feira me explicou como chegar lá. “Que fácil”, pensei. Não vai ter erro. É só passar em frente à casa dela; no fim da rua virar à esquerda; nesse ponto há três entradas, mas devo seguir na do meio, e pronto; passando um condomínio residencial já estaria no meu destino. Mal sabia o que me aguardava.

Depois de me dizer como chegar à feira, Renata fez uma observação com bastante ênfase:
– Quando estiver chegando, você vai ter que prestar MUITA ATENÇÃO, pois o lugar é meio ESCURO, e não tem identificação. Pode acabar passando batido.

Munida dessas informações e com o auxílio de uma “copiloto” eficientíssima, #partiufeira. Minha amiga e eu fomos conversando numa boa, passamos pelos pontos de referência que Renata havia nos dado. Percorremos toda a extensão do muro que cercava o condomínio e... nada.

Eu disse para minha “copiloto”:
– Acho que entendi errado. Vamos voltar no entroncamento e tentar as outras duas entradas. O que acha?

Tentativas frustradas. Era noite e não encontramos ninguém pelo caminho que pudesse nos orientar. Você pode estar se perguntando: Por que não usou GPS? A bateria do celular estava por um fio. Que mancada, né?! Antes de descarregar completamente, consegui ligar para Renata.
– Seguimos as suas orientações e não encontramos a feira – eu disse.

Renata repetiu a explicação. Fiquei intrigada: Onde ficaria a tal feira? Lá fomos nós novamente! Enquanto eu dirigia, minha amiga olhava através da janela do carro procurando um ajuntamento de barraquinhas em cada viela pela qual passávamos. Já estávamos saindo do bairro, chegando a um lugar ermo. Minha amiga e “copiloto”, quase com o pescoço deslocado de tanto olhar para fora, cogitou:
– Pode ser que hoje, excepcionalmente, a feira não esteja funcionando.

Ligamos para Renata mais uma vez, e ela se dispôs a nos acompanhar para mostrar o caminho. Voltamos ao ponto de partida, encontramos nossa amiga que, prontamente, tomou a dianteira. Seguimos o carro dela.  O trajeto que tínhamos feito estava certo. De repente, Renata acionou a seta para a esquerda. Comentei com minha amiga:
– Não acredito que ela vai entrar onde estou pensando.

Do lado esquerdo da pista havia uma galeria de lojas muito bem iluminadas, estacionamento na frente, quase um mini Shopping Center. Nas nossas idas e vindas à procura da feira orgânica passamos, pelo menos quatro vezes, em frente ao prédio. Com base na descrição de nossa amiga Renata, jamais imaginamos que pudesse ser naquela galeria a tal feirinha orgânica. Afinal de contas, se tinha algum lugar naquela região que não passaria despercebido era ali. Parecia um enorme painel de neon em meio à escuridão!

O “ocorrido” rendeu boas risadas, comentários carregados de bom humor, reflexão, e esta crônica. Ficou evidente que, mesmo tendo ferramentas e linguagem para uma comunicação eficiente, estamos sujeitos a encarar um “boi na linha”.

Há um conceito muito repetido quando se fala sobre comunicação: “Comunicação não é o que você fala, mas o que o outro entende”. Renata achou que foi clara, e eu estava certa que havia entendido. A explicação da rota foi simples. Não teve erro. O ruído na nossa comunicação se deu na descrição do local. Em nenhum momento ela mencionou barracas; essa foi uma dedução a que minha amiga e eu chegamos. Quem disse que toda feira tem barracas?! Todos nós partimos de nossos referenciais. O que Renata queria dizer é que a sala onde estava instalada a feira não tinha identificação. Talvez se tivesse falado que ficava em uma galeria teria sido o suficiente. Ela, no entanto, deu alguns detalhes na intenção de facilitar a identificação, com base em sua experiência quando esteve a primeira vez no local.

Não estamos livres de nos depararmos com “bois na linha” - são até muito comuns ruídos na comunicação - mas podemos fazer das situações que passamos uma “lousa”. A lição que ficou desse episódio foi que a objetividade e a prática de fazer perguntas, investigar são ótimos recursos para uma comunicação eficaz.

Ah! Em um caso como esse, ter um GPS e o celular carregado à mão também ajuda.

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Dando jeito no jeitinho


Por Vanessa Sene Cardoso


Depois de 14 horas de viagem, finalmente, pisamos em solo brasileiro. Que sensação boa voltar para casa, para nosso país, nossa cultura, nossa língua, ainda mais depois de vinte e um dias em solo estrangeiro. Mas chegando no aeroporto fomos recebidos com um balde de água fria da realidade brasileira. Confesso que por um momento – muito rápido, mesmo - senti vontade de pegar as malas e voltar para a nação de onde acabava de chegar. Talvez você esteja se perguntando: o que aconteceu de tão grave? Vamos lá!

Filas desorganizadas. Até aí tudo bem. Estávamos em um grupo e com bastante bagagem para despachar. Mal entramos na fila, que não estava pequena, e fomos abordados por um homem uniformizado, aparentando ser funcionário do aeroporto:

- Vocês não precisam enfrentar essa fila. É só me acompanhar e poderão despachar direto.
- Como funciona isso? – perguntamos.
- É só me dar uma gorjeta e fica tudo certo. Nada de espera!
- Nós recusamos a oferta.

Ah! O “jeitinho brasileiro”... Desse traço da nossa cultura - se é que posso considerar dessa maneira - não senti saudades. Aliás, a Lei de Gérson, essa mania de “querer levar vantagem em tudo” está tão impregnada no nosso dia a dia que, muitas vezes, isso é encarado como algo normal, natural, afinal, que mal há em:

*Guardar lugar no teatro para nossos amigos que vão chegar em cima da hora ou atrasados. Quem se programou, chegou antecipadamente, que fique nos últimos assentos, afinal estamos guardando lugar para os NOSSOS amigos que são muito mais especiais. Isso não é tão grave, é? Se pensarmos que pessoas se programaram para chegar mais cedo e pegar um bom lugar e poderão sair prejudicadas, é algo a se pensar.

*Receber troco a mais na padaria e ficar com ele, afinal o erro não é MEU. Está tudo muito caro mesmo. Uns trocados não vão fazer falta para o comerciante.

*Conseguir um atestado médico... “Puxa! Gostaria de ir ao estádio assistir ao jogo do meu time do coração na capital. Como justificar no trabalho uma viagem para tal finalidade? Ah! É só pedir um atestado para aquele MEU amigo que é médico”.

*Assinar a TV a cabo e, conforme o vendedor ofereceu extraoficialmente, compartilhar o sinal com mais cinco usuários, pagando apenas por um ponto. Os MEUS familiares sairão no lucro. Como diz o ditado popular, o mundo é dos espertos.

*Sonegar...Para que pagar imposto? Além de o valor ser exorbitante, o dinheiro vai para o bolso dos políticos corruptos.

*Quanto MEUS colegas deputados e EU vamos receber para aprovar a lei que trará vantagens para a sua empresa?

Haja jeitinho... Sinta-se à vontade para acrescentar mais situações nessa lista.

Deixando a ironia de lado...

Se fizermos uma enquete com cidadãos comuns sobre o que eles acham do cenário político, ou de nossas lideranças e dos órgãos públicos, muito provavelmente, os entrevistados vão dizer:

-Os políticos são a vergonha nacional.
-Os corruptos merecem cadeia.

A diferença entre um “pequeno” ato de corrupção e um “grande” ato de corrupção pode estar nas consequências que trazem, mas na essência são exatamente iguais.

Vale a pena a reflexão sobre a nossa própria conduta. Vemos “Gérson” (o que dá nome à lei) refletido no espelho?

Enquanto apontamos um dedo para alguém, há três dedos voltados para nós. Se queremos uma sociedade melhor, não adianta apenas denunciar os erros (isso é importante), mas é necessário avaliar nossa conduta e colocar em prática princípios e valores.

A nação é formada por cada um de nós. Se queremos alguma mudança temos que nos dispor a ser o ponto de partida. Não podemos nos deixar controlar pela “Lei de Gérson”, mesmo que isso signifique nadar contra a correnteza. Afinal não temos que nos deixar moldar pelo senso comum, quando na verdade de “senso” e de “comum”, muitas vezes, não tem nada. Estejamos alertas!

Jesus nos deixou dois mandamentos: Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo (Mateus 22.37-39 - NTLH).

Creio que a lei do amor de Deus, sim, pode fazer diferença e promover o bem a todos, a partir de cada um que a pratique.

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O dia a dia rende boas histórias... ----------



Por Vanessa Sene Cardoso


Você acha o seu dia a dia monótono, sem graça? Se observá-lo de outra perspectiva, com uma lente de humor ou ironia, descobrirá que algumas interferências não previstas na rotina podem render boas histórias e diversão. Aliás, rir de si mesmo é uma boa prática.

Quero compartilhar uma história que não é minha, mas acompanhei de perto. A semana, aparentemente, desastrosa de uma amiga serviu de matéria-prima para essa crônica.


Sábado de manhã

– Vamos logo, filho. Temos que colocar a chuteira. Ah! Aqui o seu chocolate com leite e o pão. Está na hora.

Rafael tinha um compromisso muito importante, um jogo amistoso de futebol. Estava empolgadíssimo e preparado para a vitória.

Da arquibancada vinha a torcida dos pais e da irmã. Vai, Rafael!

Apesar do incentivo, o placar foi implacável: 1 x 0, 2 x 0, 3 x 0 ... 6 x 0. Mas a mãe não desistiu. Inspirada nas Olimpíadas - quando os brasileiros abraçaram os azarões dos Jogos - da arquibancada bradava: “Eu acredito, eu acredito...” Mas o empenho não inverteu o marcador. Resultado: frustração.
           
– “Não é justo, mãe. O time deles é mais velho. Os meninos tem 7 e 8 anos. Eu tenho 6” – lamentava Rafael, inconformado.
– “Filho, foi apenas um amistoso”. Assim a mãe tentava consolar o garoto, sem muito sucesso.
           
Minha amiga prosseguiu na sua jornada... Tudo vai dar certo.


Sábado à noite

Agora é a vez do maridão que foi participar de uma corrida. Todo paramentado seguiu para o local da prova. Ela e as crianças chegaram cedo para garantir um lugar perto da pista. E lá estavam grudados na grade, prontos para acompanhar cada detalhe. De repente vem alguém abrindo caminho, empurrando, pedindo passagem. Era um idoso com pinta de atleta, e a jovem namorada. Ah! Outro protagonista da cena foi o celular. Foto daqui, pose dali, selinho pra selfie...

– “Não acredito no que estou vendo!” - minha amiga nem arriscou transformar o pensamento em palavras.

O homem foi passando por todo mundo. Um verdadeiro arrastão, guardadas as devidas proporções. Seu alvo era pular a grade de proteção. Mas na escalada se deparou com um obstáculo, a mão do pequeno Rafael, que segurava com entusiasmo a grade na expectativa de ver o pai passar na pista de corrida. Lá se foi o homem... Mas sua garota ficou na torcida.

– “Moça, fala para seu namorado que é muito feio o que ele fez. Ele pisou em uma criança e nem se deu conta disso” – desabafou minha amiga. Rafael observava o diálogo com os olhos marejados por causa da dor.

O evento esportivo transcorreu dentro da normalidade. Quando já estavam indo embora, perceberam um tumulto. Um integrante do clube de corrida havia passado mal.

– “Mãe, é o homem que pisou na mão do Rafael” – afirmou Belinha – Deus me falou que é ele. Mas como não dava para ver, a mãe desconsiderou.

Mais tarde...

A vizinha da minha amiga, que também estava com a família na corrida, disse:

– “Menina, você não sabe da maior! Presenciamos uma morte depois que vocês foram embora. O homem que sentiu-se mal foi aquele que passou por nós para pular a grade de proteção”.

– “Eu não falei, mãe?!” – lembrou Belinha.

Minha amiga nem podia imaginar que o sábado começaria com um placar desfavorável e terminaria em morte.


Domingo de manhã

Dia de plantão no trabalho. Tendo que atender, simultaneamente, três cursos minha amiga se vê em apuros. Enquanto dava assistência em uma das salas de aula, as outras ainda aguardavam a instalação dos equipamentos. Enfim, para uma pessoa que preza pela organização e o bom atendimento, foi uma provação se deparar com as coisas fora do planejado.

O sangue italiano não respeitou “as leis de tráfego das veias”, tal a velocidade com que ele transitou em poucos segundos da cabeça aos pés, mas minha amiga se conteve. Que orgulho! Na porta da sala onde seria realizado o curso com maior público, enquanto recebia os participantes, observava: pessoas e fichas protocolares se misturavam. Já não dava para saber quem era quem. Burocracia x Acolhimento.

– “Qual a saída?” – foi a pergunta que dominou a mente de minha amiga, enquanto analisava a situação.

Aguarde. As coisas podem e vão melhorar! Tenha fé!


Segunda-feira de manhã no trabalho

– “...E assim foi meu fim de semana, meninas” – concluiu a exaustiva narrativa.

Assim como a ficção prepara surpresas para o leitor, a vida real também reserva o inesperado. A saga da minha amiga estava longe do fim.

Depois de vários dias tentando adquirir convite para um café da manhã com a participação de conceituado palestrante, já estava quase desistindo, pois foram muitos os desencontros, finalmente, obteve sucesso na empreitada. Parece simples, mas fui testemunha de quantas vezes ela tentou combinar com o organizador uma forma de pegar os convites. Nunca dava certo! Quase ficou sem o seu exemplar. Ufa! (Depois ela iria descobrir que poderia ter participado apenas da palestra e, ainda por cima, gratuitamente).

Tem comunicado que a gente recebe e não sabe do que se trata, principalmente, se somos organizados com nossa vida civil, financeira e por aí vai.

– “Como bloquearam a sua conta?” – questionou minha amiga sem entender o que o marido acabara de contar. “Pode ser o IPTU da minha mãe que está atrasado. Vou à prefeitura verificar” – concluiu.

Lá foi minha amiga tentar descobrir o que estava acontecendo. Depois de muita conversa, e da sorte de ter sido atendida por um servidor público que estava ali para “servir o público”mesmo, conseguiu descobrir a natureza daquela cobrança. Precisou consultar advogado para resolver uma pendência que nem era pendência de verdade. Como é duro pagar o que não se deve! Mas no fim tudo dá certo, se não deu certo é porque não chegou o fim.


Terça-feira
           
Uma trégua!!!!

     
Quarta-feira à tarde
           
Tudo combinado para a festa surpresa de uma amiga do trabalho.

– “Eu vou pegar o salgado e deixar aí por volta de 14h, corro para a prefeitura, e 16h volto para a festa, combinado?” – programou minha amiga.

É, a vida é uma caixinha de surpresas.

Em frente ao computador tentava se concentrar nos documentos que precisava imprimir. A filha pedindo ajuda para enviar uma mensagem no celular, o filho em volta distraindo a atenção.

Eis que surge a funcionária da casa anunciando o aparecimento de uma visita inesperada.

– “Para tudo. O que?! Um raaaaato?!”

Não sabendo o que fazer minha amiga pediu socorro ao marido. Sem se levantar do sofá, afinal eram os últimos capítulos do impeachment da presidente, disse para ela recorrer ao porteiro. Mas o funcionário não podia deixar o posto. Primeira alternativa: sem sucesso.

As crianças não descuidavam um minuto do intruso que andava com toda desenvoltura pelo quintal.

– “Já sei, vou chamar alguém para dedetizar ” – foi a segunda alternativa da minha amiga para resolver a situação. Quando descobriu o preço do serviço, desistiu.

A caçada continuava. E o rato sentindo-se o dono do pedaço... E sobe nas bicicletas, sobe no carro... Até que, com a ajuda de um vizinho, conseguiram encurralar o roedor e servir veneno para ele. Por hora o problema estava resolvido.

Mas a funcionária da minha amiga levantou uma lebre, que neste caso, era força de expressão, e não mais um visitante indesejado.

– “É melhor verificar o carro, pois uma vez entrou um rato em casa e roeu o fio da minha máquina de costura” – alertou a funcionária.

O marido da minha amiga desconsiderou essa possibilidade, até que precisou sair e quando virou a chave na ignição: “pif”. Nem sinal de partida. Mais um transtorno. Toca chamar a assistência. Pura coincidência. O problema nada tinha a ver com a excursão do rato pelo interior do carro.

Quinta-feira: Ressaca da semana. Sexta-feira: Ufa! Que maratona de emoções! Esperança de dias melhores...

...Com certeza eles virão... As circunstâncias, muitas vezes, são adversas, mas deixar-se guiar por elas ou não, é uma decisão. Você não tem controle, na maioria das vezes, e, muito provavelmente, não poderá mudá-las. A sua atitude diante delas, no entanto, pode fazer toda a diferença.

Um brinde a você, minha Amiga, com limão, gelo e o que mais a sua imaginação quiser acrescentar.

*Nomes substituídos

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