quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O dia a dia rende boas histórias...


        

Por Vanessa Sene Cardoso

Você acha o seu dia a dia monótono, sem graça? Se observá-lo de outra perspectiva, com uma lente de humor ou ironia, descobrirá que algumas interferências não previstas na rotina podem render boas histórias e diversão. Aliás, rir de si mesmo é uma boa prática.

Quero compartilhar uma história que não é minha, mas acompanhei de perto. A semana, aparentemente, desastrosa de uma amiga serviu de matéria-prima para essa crônica.


Sábado de manhã

– Vamos logo, filho. Temos que colocar a chuteira. Ah! Aqui o seu chocolate com leite e o pão. Está na hora.

Rafael tinha um compromisso muito importante, um jogo amistoso de futebol. Estava empolgadíssimo e preparado para a vitória.

Da arquibancada vinha a torcida dos pais e da irmã. Vai, Rafael!

Apesar do incentivo, o placar foi implacável: 1 x 0, 2 x 0, 3 x 0 ... 6 x 0. Mas a mãe não desistiu. Inspirada nas Olimpíadas - quando os brasileiros abraçaram os azarões dos Jogos - da arquibancada bradava: “Eu acredito, eu acredito...” Mas o empenho não inverteu o marcador. Resultado: frustração.
           
– “Não é justo, mãe. O time deles é mais velho. Os meninos tem 7 e 8 anos. Eu tenho 6” – lamentava Rafael, inconformado.
– “Filho, foi apenas um amistoso”. Assim a mãe tentava consolar o garoto, sem muito sucesso.
           
Minha amiga prosseguiu na sua jornada... Tudo vai dar certo.


Sábado à noite

Agora é a vez do maridão que foi participar de uma corrida. Todo paramentado seguiu para o local da prova. Ela e as crianças chegaram cedo para garantir um lugar perto da pista. E lá estavam grudados na grade, prontos para acompanhar cada detalhe. De repente vem alguém abrindo caminho, empurrando, pedindo passagem. Era um idoso com pinta de atleta, e a jovem namorada. Ah! Outro protagonista da cena foi o celular. Foto daqui, pose dali, selinho pra selfie...

– “Não acredito no que estou vendo!” - minha amiga nem arriscou transformar o pensamento em palavras.

O homem foi passando por todo mundo. Um verdadeiro arrastão, guardadas as devidas proporções. Seu alvo era pular a grade de proteção. Mas na escalada se deparou com um obstáculo, a mão do pequeno Rafael, que segurava com entusiasmo a grade na expectativa de ver o pai passar na pista de corrida. Lá se foi o homem... Mas sua garota ficou na torcida.

– “Moça, fala para seu namorado que é muito feio o que ele fez. Ele pisou em uma criança e nem se deu conta disso” – desabafou minha amiga. Rafael observava o diálogo com os olhos marejados por causa da dor.

O evento esportivo transcorreu dentro da normalidade. Quando já estavam indo embora, perceberam um tumulto. Um integrante do clube de corrida havia passado mal.

– “Mãe, é o homem que pisou na mão do Rafael” – afirmou Belinha – Deus me falou que é ele. Mas como não dava para ver, a mãe desconsiderou.

Mais tarde...

A vizinha da minha amiga, que também estava com a família na corrida, disse:

– “Menina, você não sabe da maior! Presenciamos uma morte depois que vocês foram embora. O homem que sentiu-se mal foi aquele que passou por nós para pular a grade de proteção”.

– “Eu não falei, mãe?!” – lembrou Belinha.

Minha amiga nem podia imaginar que o sábado começaria com um placar desfavorável e terminaria em morte.


Domingo de manhã

Dia de plantão no trabalho. Tendo que atender, simultaneamente, três cursos minha amiga se vê em apuros. Enquanto dava assistência em uma das salas de aula, as outras ainda aguardavam a instalação dos equipamentos. Enfim, para uma pessoa que preza pela organização e o bom atendimento, foi uma provação se deparar com as coisas fora do planejado.

O sangue italiano não respeitou “as leis de tráfego das veias”, tal a velocidade com que ele transitou em poucos segundos da cabeça aos pés, mas minha amiga se conteve. Que orgulho! Na porta da sala onde seria realizado o curso com maior público, enquanto recebia os participantes, observava: pessoas e fichas protocolares se misturavam. Já não dava para saber quem era quem. Burocracia x Acolhimento.

– “Qual a saída?” – foi a pergunta que dominou a mente de minha amiga, enquanto analisava a situação.

Aguarde. As coisas podem e vão melhorar! Tenha fé!


Segunda-feira de manhã no trabalho

– “...E assim foi meu fim de semana, meninas” – concluiu a exaustiva narrativa.

Assim como a ficção prepara surpresas para o leitor, a vida real também reserva o inesperado. A saga da minha amiga estava longe do fim.

Depois de vários dias tentando adquirir convite para um café da manhã com a participação de conceituado palestrante, já estava quase desistindo, pois foram muitos os desencontros, finalmente, obteve sucesso na empreitada. Parece simples, mas fui testemunha de quantas vezes ela tentou combinar com o organizador uma forma de pegar os convites. Nunca dava certo! Quase ficou sem o seu exemplar. Ufa! (Depois ela iria descobrir que poderia ter participado apenas da palestra e, ainda por cima, gratuitamente).

Tem comunicado que a gente recebe e não sabe do que se trata, principalmente, se somos organizados com nossa vida civil, financeira e por aí vai.

– “Como bloquearam a sua conta?” – questionou minha amiga sem entender o que o marido acabara de contar. “Pode ser o IPTU da minha mãe que está atrasado. Vou à prefeitura verificar” – concluiu.

Lá foi minha amiga tentar descobrir o que estava acontecendo. Depois de muita conversa, e da sorte de ter sido atendida por um servidor público que estava ali para “servir o público”mesmo, conseguiu descobrir a natureza daquela cobrança. Precisou consultar advogado para resolver uma pendência que nem era pendência de verdade. Como é duro pagar o que não se deve! Mas no fim tudo dá certo, se não deu certo é porque não chegou o fim.


Terça-feira
           
Uma trégua!!!!

     
Quarta-feira à tarde
           
Tudo combinado para a festa surpresa de uma amiga do trabalho.

– “Eu vou pegar o salgado e deixar aí por volta de 14h, corro para a prefeitura, e 16h volto para a festa, combinado?” – programou minha amiga.

É, a vida é uma caixinha de surpresas.

Em frente ao computador tentava se concentrar nos documentos que precisava imprimir. A filha pedindo ajuda para enviar uma mensagem no celular, o filho em volta distraindo a atenção.

Eis que surge a funcionária da casa anunciando o aparecimento de uma visita inesperada.

– “Para tudo. O que?! Um raaaaato?!”

Não sabendo o que fazer minha amiga pediu socorro ao marido. Sem se levantar do sofá, afinal eram os últimos capítulos do impeachment da presidente, disse para ela recorrer ao porteiro. Mas o funcionário não podia deixar o posto. Primeira alternativa: sem sucesso.

As crianças não descuidavam um minuto do intruso que andava com toda desenvoltura pelo quintal.

– “Já sei, vou chamar alguém para dedetizar ” – foi a segunda alternativa da minha amiga para resolver a situação. Quando descobriu o preço do serviço, desistiu.

A caçada continuava. E o rato sentindo-se o dono do pedaço... E sobe nas bicicletas, sobe no carro... Até que, com a ajuda de um vizinho, conseguiram encurralar o roedor e servir veneno para ele. Por hora o problema estava resolvido.

Mas a funcionária da minha amiga levantou uma lebre, que neste caso, era força de expressão, e não mais um visitante indesejado.

– “É melhor verificar o carro, pois uma vez entrou um rato em casa e roeu o fio da minha máquina de costura” – alertou a funcionária.

O marido da minha amiga desconsiderou essa possibilidade, até que precisou sair e quando virou a chave na ignição: “pif”. Nem sinal de partida. Mais um transtorno. Toca chamar a assistência. Pura coincidência. O problema nada tinha a ver com a excursão do rato pelo interior do carro.

Quinta-feira: Ressaca da semana. Sexta-feira: Ufa! Que maratona de emoções! Esperança de dias melhores...

...Com certeza eles virão... As circunstâncias, muitas vezes, são adversas, mas deixar-se guiar por elas ou não, é uma decisão. Você não tem controle, na maioria das vezes, e, muito provavelmente, não poderá mudá-las. A sua atitude diante delas, no entanto, pode fazer toda a diferença.

Um brinde a você, minha Amiga, com limão, gelo e o que mais a sua imaginação quiser acrescentar.

*Nomes substituídos