Depois de 14 horas de viagem, finalmente, pisamos em solo brasileiro. Que sensação boa voltar para casa, para nosso país, nossa cultura, nossa língua, ainda mais depois de vinte e um dias em solo estrangeiro. Mas chegando no aeroporto fomos recebidos com um balde de água fria da realidade brasileira. Confesso que por um momento – muito rápido, mesmo - senti vontade de pegar as malas e voltar para a nação de onde acabava de chegar. Talvez você esteja se perguntando: o que aconteceu de tão grave? Vamos lá!
Filas desorganizadas. Até aí tudo bem. Estávamos em
um grupo e com bastante bagagem para despachar. Mal entramos na fila, que não
estava pequena, e fomos abordados por um homem uniformizado, aparentando ser
funcionário do aeroporto:
- Vocês não precisam enfrentar essa fila. É só me
acompanhar e poderão despachar direto.
- Como funciona isso? – perguntamos.
- É só me dar uma gorjeta e fica tudo certo. Nada
de espera!
- Nós recusamos a oferta.
Ah! O “jeitinho brasileiro”... Desse traço da nossa
cultura - se é que posso considerar dessa maneira - não senti saudades. Aliás, a
Lei de Gérson, essa mania de “querer levar vantagem em tudo” está tão
impregnada no nosso dia a dia que, muitas vezes, isso é encarado como algo
normal, natural, afinal, que mal há em:
*Guardar lugar no teatro para nossos amigos que vão
chegar em cima da hora ou atrasados. Quem se programou, chegou antecipadamente,
que fique nos últimos assentos, afinal estamos guardando lugar para os NOSSOS
amigos que são muito mais especiais. Isso não é tão grave, é? Se pensarmos que
pessoas se programaram para chegar mais cedo e pegar um bom lugar e poderão
sair prejudicadas, é algo a se pensar.
*Receber troco a mais na padaria e ficar com ele,
afinal o erro não é MEU. Está tudo muito caro mesmo. Uns trocados não vão fazer
falta para o comerciante.
*Conseguir um atestado médico... “Puxa! Gostaria de
ir ao estádio assistir ao jogo do meu time do coração na capital. Como
justificar no trabalho uma viagem para tal finalidade? Ah! É só pedir um
atestado para aquele MEU amigo que é médico”.
*Assinar a TV a cabo e, conforme o vendedor ofereceu
extraoficialmente, compartilhar o sinal com mais cinco usuários, pagando apenas
por um ponto. Os MEUS familiares sairão no lucro. Como diz o ditado popular, o
mundo é dos espertos.
*Sonegar...Para que pagar imposto? Além de o valor
ser exorbitante, o dinheiro vai para o bolso dos políticos corruptos.
*Quanto MEUS colegas deputados e EU vamos receber
para aprovar a lei que trará vantagens para a sua empresa?
Haja
jeitinho... Sinta-se à vontade para acrescentar mais situações nessa lista.
Deixando a ironia de lado...
Se fizermos uma enquete com cidadãos comuns sobre o
que eles acham do cenário político, ou de nossas lideranças e dos órgãos públicos,
muito provavelmente, os entrevistados vão dizer:
-Os políticos são a vergonha nacional.
-Os corruptos merecem cadeia.
A diferença entre um “pequeno” ato de corrupção e
um “grande” ato de corrupção pode estar nas consequências que trazem, mas na
essência são exatamente iguais.
Vale a pena a reflexão sobre a nossa própria
conduta. Vemos “Gérson” (o que dá nome à lei) refletido no espelho?
Enquanto apontamos um dedo para alguém, há três
dedos voltados para nós. Se queremos uma sociedade melhor, não adianta apenas
denunciar os erros (isso é importante), mas é necessário avaliar nossa conduta e colocar em prática
princípios e valores.
A nação é formada por cada um de nós. Se queremos
alguma mudança temos que nos dispor a ser o ponto de partida. Não podemos nos
deixar controlar pela “Lei de Gérson”, mesmo que isso signifique nadar contra a
correnteza. Afinal não temos que nos deixar moldar pelo senso comum, quando na
verdade de “senso” e de “comum”, muitas vezes, não tem nada. Estejamos alertas!
Jesus nos deixou dois mandamentos: Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu
coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento. Este é o primeiro e
maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si
mesmo (Mateus 22.37-39 - NTLH).