quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Tenha bom ânimo

Por Vanessa Sene Cardoso

Fim de ano, na maioria das vezes, requer uma retrospectiva ou reflexão sobre os doze meses que se passaram. Decidi fazer uma analogia de 2020 e as etapas da vida. Aliás, ela passa em um piscar de olhos, assim como o ano.

Infância

A infância é a fase da imaginação, da fantasia. Quando eu era criança, costumava criar histórias, personagens com os quais conversava, e que povoavam as minhas brincadeiras solitárias. Nos momentos coletivos, o elenco exclusivo ficava quietinho dentro do meu universo particular. Junto com outras crianças, a coisa mudava de figura, ou melhor, surgiam novos personagens e invenções.

Brinquei e criei muito na infância. Um simples tapete cobrindo duas hastes de madeira encostadas no muro do fundo do quintal, e uma bacia de lavar roupa no gramado se transformavam em uma casa com piscina – a coqueluche dos anos 70 e 80. Tudo parecia grande e real. As bonecas tinham nome e, para mim, eram filhas, sobrinhas, irmãs...tinham vida própria.

Quando o ano começa, normalmente, é assim. E 2020 não foi diferente. Ficamos como crianças esperando por algo novo, surpreendente; basta observar o comportamento, as reações das pessoas na passagem do ano. Penso que até os mais pessimistas, lá no fundinho, têm expectativas e trazem à tona aquela velha criança, meio empoeirada, com algum mofo, cheirando naftalina; talvez meio sem vida, como as bonecas abandonados na adolescência. Mas ela está lá no interior.

Adolescência

A adolescência chega de repente. O corpo fica estranho, os hormônios desconfiguram a imagem diante do espelho: espinhas na testa; boca, nariz, orelhas ENORMES; e no caso dos meninos, ainda tem a voz que, em um segundo, sobe e desce uma oitava; os sentidos parecem ficar mais aguçados, e desordenados. Isso sem falar no turbilhão emocional. Para as meninas, em especial, tudo é intenso, ganha novas proporções: “Minha melhor amiga”, “Odeio cebola”; “Se eu tirar nota vermelha, morro”; “Pareço uma baleia”. Quem nunca?!

Descobrimos um mundo abstrato que nos suga da concretude da infância. A inocência se depara com a realidade. Queremos romper com a etapa anterior. Essa é a fase do conflito, do confronto, das dúvidas, dos questionamentos. A transição da infância para a vida adulta é um tempo marcado pela instabilidade. Parafraseando um adolescente, é o CAOS. Temos crise de identidade, inadequação; surgem os rótulos, apelidos.

Falando assim, parece não ter nada de bom. Mas quem já passou por essa fase sabe o quanto é divertido. A gente ri à toa, se apaixona, descobre como é legal fazer parte de uma turma, começa a conquistar autonomia, descobre tanta coisa nova.

A adolescência de 2020 começou em março. Quem imaginaria que, do dia para noite, nossa rotina, a sociedade, o mundo virariam de cabeça para baixo?! A pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos desestabilizaram nossa vida, mudaram nossos hábitos, nossas relações, nossa comunicação. Ufa! Esse tema já foi abordado à exaustão.

Juventude

A juventude é a fase da sensação de invencibilidade. EU TENHO A FORÇA! Escolho minha carreira, conquisto a independência, sou o dono do meu nariz e da verdade. Para que ouvir o conselho dos mais velhos?! Eles estão por fora, ultrapassados – permitam-me essa pitada de exagero, ok?

Em maior ou menor escala, o jovem não se liga muito no passado, que é recente; e também não se imagina no futuro, embora faça planos. O que importa é o “agora”. Afinal, é uma fase de muito vigor, sonhos, desejos. Há muita energia para gastar, falta apenas o fio para conduzir e canalizar essa energia. Isso vem com o tempo e a experiência. Essa é a hora de quebrar a cara. Ainda dá tempo de recomeçar. A juventude é linda. Vigor, boa aparência física, muitas oportunidades pela frente.

Depois do turbilhão provocado pela pandemia, que deixou tudo fora do lugar, nos deparamos com novas possibilidades de fazer as coisas, reinventar o cotidiano, eis aí uma característica típica da juventude: inovar; desconstruir para depois reconstruir de outra forma. Tivemos que mudar nossos hábitos, comportamento, forma de comunicação.

Maturidade

Quando chegamos à fase adulta temos a convicção de algo que até então era uma suspeita: a vida é difícil. Nem tudo é possível; o fracasso e a frustração fazem parte do script; não existe príncipe encantado; as contas para pagar não falham; temos limitações; o controle é uma ilusão...

Como em cada etapa, a maturidade tem suas compensações. Adquirimos sabedoria com as experiências; entendemos que tudo passa; atingimos um estado de contentamento e conforto em ser quem somos, pois passamos a nos conhecer melhor; a opinião dos outros a nosso respeito perde força de comando; nossas emoções trocam a montanha russa pelo trenzinho; percebemos que, muitas vezes, a paz tem mais valor do que a razão. Experimentamos a liberdade.

E 2020 termina com algumas frustrações, sonhos abortados, planos não realizados, perdas; mas, como na maturidade, rico em aprendizado. Para mim, o saldo é positivo. Deixo a bola quicando para você... Reflita. É um bom exercício!

2021

Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo (João 16.33).

A palavra de Jesus para nós hoje e no ano que se inicia é TENHAM BOM ÂNIMO. Não tem como evitar as intempéries da vida. Mas, em Cristo, encontramos a paz que não depende de circunstâncias. PAZ é o que desejo para você.

Feliz Ano Novo!