Por Vanessa Sene Cardoso
Quando éramos crianças, muitas
vezes, não entendíamos o porquê do “não”. Ficávamos irados, fazíamos birra,
desobedecíamos e acabávamos dando com os burros n’água. Será que era praga dos
mais velhos? Ou será que era a experiência? Ai como era irritante ouvir a
seguinte frase: “eu já passei por isso, tenho experiêeeeencia...”
Para atravessar a rua a regra é:
“não atravessar sozinho, só de mãos dadas com um adulto”. Quando muito nova, a
criança não entende alguns conceitos como risco, perigo, morte, não adianta
argumentar, por isso vale algo mais concreto, objetivo: sim ou não. A regra
“atravessar a rua de mãos dadas com um adulto” foi aplicada para transmitir o
princípio “é preciso tomar cuidado ao atravessar a rua para evitar um
acidente”. Quando crescemos essa regra perde a validade, pois assimilamos o
princípio. E o mesmo acontece em outras áreas de nossa vida. O “não” é
educativo, é protetor, no momento certo, é claro!
Um pré-adolescente, um adolescente, um jovem têm condições de abstrair; nesse caso é possível argumentar, e o diálogo é essencial. Mas nessas etapas da
vida, agimos muito por impulso, o que vale é o momento, o calor das emoções,
temos dificuldade de enxergar “virando a esquina”. É aqui que entra a tão
rejeitada “experiêeeencia” dos mais velhos. Eles já foram treinados pela vida e
sabem o que tem “virando a esquina”. Por isso como escreveu o rei Salomão, um
dos homens mais sábios que já existiram: “Para
ser sábio, é preciso primeiro temer a Deus, o Senhor. Os tolos desprezam a
sabedoria e não querem aprender. Meu filho, escute o que o seu pai ensina e preste
atenção no que sua mãe diz. Os ensinamentos deles vão aperfeiçoar o seu
caráter, assim como um belo turbante ou um colar melhoram a sua aparência”
(Provérbios 1.7-9 - NTLH). Salomão escreveu o livro de Provérbios depois de
ter “virado várias esquinas”.
As regras não deveriam deixar de valer para os adultos? Essa é uma questão
difícil, pois ser adulto nem sempre quer dizer ter maturidade, seja emocional,
intelectual, espiritual. Para muitos talvez tenham faltado alguns “nãos” afirmativos,
ou seja, com a finalidade de contribuir no crescimento. O “não” é importante em
todas as fases da vida.
Tudo isso parece tão óbvio, mas de óbvio não tem nada, pois as pessoas
são complexas; um conjunto de crenças, valores, aprendizados, culturas e muito
mais, influencia na formação de cada um. Se existisse bom-senso provavelmente
não haveria necessidade de tantas regras, mas afinal, o que é o bom-senso?
O ideal seria viver numa sociedade onde não fosse necessária uma
infinidade de regras, mas como muitos princípios para a convivência não são
assimilados, precisamos ser limitados por elas.
Certa vez, quando Jesus foi questionado pelos líderes religiosos da
época, sobre a lei, ele respondeu:
—“Ame o Senhor, seu Deus, com
todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. Este é o maior mandamento e
o mais importante. E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: Ame
os outros como você ama a você mesmo” (Mateus 22.37-39 – NTLH).
Quem sabe em outro artigo falaremos sobre o “sim”. Aliás, não seria o
amor o substituto do “não” e do “sim”?!