terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A lente que usamos




Por Vanessa Sene Cardoso

Hoje vou contar a história de uma menina chamada Borboleta. Ela teve uma infância muito feliz, nasceu em um lar estruturado – longe da perfeição, pois não existe família perfeita –, recebeu amor, afirmação, teve pais presentes, que a ensinaram valores cristãos. Tinha uma grande parentela, com muitos tios, tias, primos, primas, avós, amigos... Suas férias sempre eram incríveis. Borboleta era uma garota criativa, gostava de brincar e, como muitas crianças, também convivia com suas histórias e personagens imaginários. Era alegre, sorridente e comunicativa. Sempre foi boa aluna e muito dedicada.

Por causa do trabalho do pai, Borboleta mudou de cidade algumas vezes. Se por um lado conheceu lugares e pessoas diferentes, por outro sentia vontade de criar raízes. A cada nova escola ou vizinhança, embora acabasse se adaptando, a princípio sentia-se uma forasteira entre as outras crianças, pois a maioria tinha nascido e vivia na mesma cidade.

Quando estava entrando na adolescência, Borboleta mudou novamente de cidade e, consequentemente, de escola. Foi uma fase difícil, de muitas mudanças: física,  emocional, cultural (morava em um estado e mudou para outro com costumes um pouco diferentes); busca por autoafirmação, autoconhecimento, sentido existencial, o que é normal nesta faixa etária. A adolescência também é uma fase em que se procura aceitação no grupo, senso de pertencimento em um ambiente de relacionamento com os “iguais”. Pois bem, esse era o contexto de Borboleta naquela época. Era muito tímida, fazia de tudo para não ser notada. Na nova escola, a maior parte da turma tinha em comum a trajetória escolar, as crianças estudavam juntas desde o início da vida acadêmica, a amizade extrapolava o muro do colégio. Borboleta acabou se aproximando daquelas que, como ela, eram novatas naquele ambiente.

Borboleta tinha um semblante que refletia sua condição emocional – na época – carregada de uma certa melancolia. Na maior parte das vezes era séria, achava algumas brincadeiras meio tolas, se irritava com o comportamento maroto de outras crianças, não sorria muito nas fotos. A alegria da infância se converteu em um sentimento de inadequação e desconforto emocional. Se tornou muito fechada. Na escola encarava alguns comentários e atitudes dos colegas como algo depreciativo, deboche. E, realmente, crianças quando querem sabem ser cruéis. Borboleta reagiu a tudo isso criando uma cerca, onde só permitia o acesso de pessoas muito chegadas e que não representavam ameaça.

Muitos anos depois...Na vida adulta...

Ao entrar na juventude, Borboleta carregou durante alguns anos a impressão equivocada sobre si mesma que construiu na fase de transição da infância para a vida adulta. Sua autoimagem era distorcida, o que interferia na autoestima e na forma como se projetava nos diferentes meios em que estava inserida, bem como na forma como se relacionava com os outros. Enxergava as circunstâncias, as pessoas, o ambiente e a si mesma através da lente que passou a usar na adolescência.

Os valores e ensinamentos que recebeu dos pais, principalmente, sobre a fé cristã e a pessoa de Jesus foram determinantes para que passasse a enxergar com nitidez e verdade quem realmente era. Quando decidiu substituir a lente que distorcia sua visão pela lente cristalina do Espírito Santo percebeu sua verdadeira imagem. O amadurecimento e o senso de identidade em Cristo fizeram com que Borboleta abandonasse a antiga forma de ver e interagir com o mundo (2 Coríntios 3.18).

Com o passar do tempo Borboleta percebeu que naquela fase difícil a lente que usava impediu que enxergasse o mundo, as pessoas e as circunstâncias de forma positiva. Com a bênção da maturidade pôde entender que as pessoas não usavam a mesma lente que ela. A reaproximação anos mais tarde com alguns colegas permitiu uma reconciliação com aquele passado, o que se tornou possível em função da ausência de sua antiga lente.

Reflexão

Uma mesma situação é vista de diferentes maneiras, dependendo da lente que a pessoa usa. Essa lente é composta pela história de vida, crenças, ambiente em que se está inserido, relacionamentos, temperamento, personalidade, etc... Nem sempre ela nos faz enxergar as coisas como realmente são. Com a maturidade trocamos as lentes, mas há quem resista em permanecer enxergando as coisas da mesma forma. Uma questão de escolha!

Quando nos relacionamos com Jesus e permitimos que ele viva em nós, nossa visão vai sendo transformada, à medida que amadurecemos. Isso é graça! É um presente de Deus!

Borboleta, na verdade, era uma lagarta que, no processo natural da vida, criou asas e voou. Experimente sair da zona de conforto!

Fotos: Vanessa Sene Cardoso
Só observando... Que lente você usa?