quinta-feira, 31 de maio de 2018

Tem boi na linha



Por Vanessa Sene Cardoso 

Dias atrás, combinei com uma amiga de visitar uma feira de produtos orgânicos. O que seria algo simples e corriqueiro, para nós se tornou uma aventura. Vamos comigo!

Outra amiga – vou chamá-la de Renata – que já havia ido à feira me explicou como chegar lá. “Que fácil”, pensei. Não vai ter erro. É só passar em frente à casa dela; no fim da rua virar à esquerda; nesse ponto há três entradas, mas devo seguir na do meio, e pronto; passando um condomínio residencial já estaria no meu destino. Mal sabia o que me aguardava.

Depois de me dizer como chegar à feira, Renata fez uma observação com bastante ênfase:
– Quando estiver chegando, você vai ter que prestar MUITA ATENÇÃO, pois o lugar é meio ESCURO, e não tem identificação. Pode acabar passando batido.

Munida dessas informações e com o auxílio de uma “copiloto” eficientíssima, #partiufeira. Minha amiga e eu fomos conversando numa boa, passamos pelos pontos de referência que Renata havia nos dado. Percorremos toda a extensão do muro que cercava o condomínio e... nada.

Eu disse para minha “copiloto”:
– Acho que entendi errado. Vamos voltar no entroncamento e tentar as outras duas entradas. O que acha?

Tentativas frustradas. Era noite e não encontramos ninguém pelo caminho que pudesse nos orientar. Você pode estar se perguntando: Por que não usou GPS? A bateria do celular estava por um fio. Que mancada, né?! Antes de descarregar completamente, consegui ligar para Renata.
– Seguimos as suas orientações e não encontramos a feira – eu disse.

Renata repetiu a explicação. Fiquei intrigada: Onde ficaria a tal feira? Lá fomos nós novamente! Enquanto eu dirigia, minha amiga olhava através da janela do carro procurando um ajuntamento de barraquinhas em cada viela pela qual passávamos. Já estávamos saindo do bairro, chegando a um lugar ermo. Minha amiga e “copiloto”, quase com o pescoço deslocado de tanto olhar para fora, cogitou:
– Pode ser que hoje, excepcionalmente, a feira não esteja funcionando.

Ligamos para Renata mais uma vez, e ela se dispôs a nos acompanhar para mostrar o caminho. Voltamos ao ponto de partida, encontramos nossa amiga que, prontamente, tomou a dianteira. Seguimos o carro dela.  O trajeto que tínhamos feito estava certo. De repente, Renata acionou a seta para a esquerda. Comentei com minha amiga:
– Não acredito que ela vai entrar onde estou pensando.

Do lado esquerdo da pista havia uma galeria de lojas muito bem iluminadas, estacionamento na frente, quase um mini Shopping Center. Nas nossas idas e vindas à procura da feira orgânica passamos, pelo menos quatro vezes, em frente ao prédio. Com base na descrição de nossa amiga Renata, jamais imaginamos que pudesse ser naquela galeria a tal feirinha orgânica. Afinal de contas, se tinha algum lugar naquela região que não passaria despercebido era ali. Parecia um enorme painel de neon em meio à escuridão!

O “ocorrido” rendeu boas risadas, comentários carregados de bom humor, reflexão, e esta crônica. Ficou evidente que, mesmo tendo ferramentas e linguagem para uma comunicação eficiente, estamos sujeitos a encarar um “boi na linha”.

Há um conceito muito repetido quando se fala sobre comunicação: “Comunicação não é o que você fala, mas o que o outro entende”. Renata achou que foi clara, e eu estava certa que havia entendido. A explicação da rota foi simples. Não teve erro. O ruído na nossa comunicação se deu na descrição do local. Em nenhum momento ela mencionou barracas; essa foi uma dedução a que minha amiga e eu chegamos. Quem disse que toda feira tem barracas?! Todos nós partimos de nossos referenciais. O que Renata queria dizer é que a sala onde estava instalada a feira não tinha identificação. Talvez se tivesse falado que ficava em uma galeria teria sido o suficiente. Ela, no entanto, deu alguns detalhes na intenção de facilitar a identificação, com base em sua experiência quando esteve a primeira vez no local.

Não estamos livres de nos depararmos com “bois na linha” - são até muito comuns ruídos na comunicação - mas podemos fazer das situações que passamos uma “lousa”. A lição que ficou desse episódio foi que a objetividade e a prática de fazer perguntas, investigar são ótimos recursos para uma comunicação eficaz.

Ah! Em um caso como esse, ter um GPS e o celular carregado à mão também ajuda.