domingo, 13 de dezembro de 2015

Amar sem gostar?!

Por Vanessa Sene Cardoso



“Eu não vou muito com a cara dele. Não me fez nada, mas sem saber porque, não simpatizo com ele”. “Ela me trata com hostilidade sem motivo aparente, e não quer conversa; prefiro evitar a convivência”. Você já disse ou pensou algo assim? Sendo cristão, como se sentiu? Culpado? Em desacordo com a conduta que deve ter um filho de Deus? Afinal, aprendemos que, como discípulos de Jesus, temos que amar o próximo. Espera lá! Amar. E não, necessariamente, gostar. Mas não é a mesma coisa? Quem ama, gosta. Será que é sempre assim? Então, porque você se identificou com as situações acima? Vamos refletir um pouco sobre “amar” e “gostar”.

De acordo com o dicionário Priberam, gostar significa: Apreciar; ter prazer em ver ou em sentir; ter inclinação; achar-se ou dar-se bem; simpatizar; ter satisfação em. Gostar de alguma coisa ou de alguém envolve uma escolha ou sentimento do ser humano, é algo variável, que pode mudar de acordo com as circunstâncias ou com as perspectivas. Tem a ver com a sua história de vida, meio onde está inserido, personalidade e outras características individuais.

Mas na Bíblia encontramos o mandamento de Jesus que é para todos os seus seguidores: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.39). Para o filho de Deus, amar é uma ordem e não uma escolha pessoal. Amar nem sempre envolve sentimentos, tem mais a ver com caráter, decisão, obediência e, principalmente, identidade; afinal, Deus, o nosso Pai, é amor (1 João 4.8).

O fato de não gostar de alguém não me permite maldizer ou tratá-lo com hostilidade. Independentemente do que sinto, posso ser gentil e respeitoso no contato com as pessoas, pois essas atitudes são fruto do caráter e não das emoções.

Preciso conviver com quem não gosto? Podemos evitar, mas nem sempre isso é possível. Então o que fazer? Voltando às situações apresentadas no início do texto: imagine que aquele cara que você não topa é seu colega de trabalho e está passando por necessidades na área financeira, e você tem como ajudar, o que o impede de fazê-lo? O sentimento? Não é necessário gostar de alguém para ser bênção na vida dessa pessoa. Agora imagine que aquela que lhe trata com hostilidade está sofrendo de depressão profunda, lutando com perturbação noturna, por que não orar por ela? Quem sabe o amor prático não mude o sentimento? Prepare-se! Você pode se surpreender! Mas mesmo que isso não aconteça, gostando ou não de determinada pessoa, decida amá-la em Cristo, mesmo que a distância.

“Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 12.18). Fica a dica de leitura: Romanos 12.9-21.

domingo, 29 de novembro de 2015

Por que não?

Por Vanessa Sene Cardoso





Quando éramos crianças, muitas vezes, não entendíamos o porquê do “não”. Ficávamos irados, fazíamos birra, desobedecíamos e acabávamos dando com os burros n’água. Será que era praga dos mais velhos? Ou será que era a experiência? Ai como era irritante ouvir a seguinte frase: “eu já passei por isso, tenho experiêeeeencia...”
                
Para atravessar a rua a regra é: “não atravessar sozinho, só de mãos dadas com um adulto”. Quando muito nova, a criança não entende alguns conceitos como risco, perigo, morte, não adianta argumentar, por isso vale algo mais concreto, objetivo: sim ou não. A regra “atravessar a rua de mãos dadas com um adulto” foi aplicada para transmitir o princípio “é preciso tomar cuidado ao atravessar a rua para evitar um acidente”. Quando crescemos essa regra perde a validade, pois assimilamos o princípio. E o mesmo acontece em outras áreas de nossa vida. O “não” é educativo, é protetor, no momento certo, é claro!

Um pré-adolescente, um adolescente, um jovem têm condições de abstrair; nesse caso é possível argumentar, e o diálogo é essencial. Mas nessas etapas da vida, agimos muito por impulso, o que vale é o momento, o calor das emoções, temos dificuldade de enxergar “virando a esquina”. É aqui que entra a tão rejeitada “experiêeeencia” dos mais velhos. Eles já foram treinados pela vida e sabem o que tem “virando a esquina”. Por isso como escreveu o rei Salomão, um dos homens mais sábios que já existiram: “Para ser sábio, é preciso primeiro temer a Deus, o Senhor. Os tolos desprezam a sabedoria e não querem aprender. Meu filho, escute o que o seu pai ensina e preste atenção no que sua mãe diz. Os ensinamentos deles vão aperfeiçoar o seu caráter, assim como um belo turbante ou um colar melhoram a sua aparência” (Provérbios 1.7-9 - NTLH). Salomão escreveu o livro de Provérbios depois de ter “virado várias esquinas”.

As regras não deveriam deixar de valer para os adultos? Essa é uma questão difícil, pois ser adulto nem sempre quer dizer ter maturidade, seja emocional, intelectual, espiritual. Para muitos talvez tenham faltado alguns “nãos” afirmativos, ou seja, com a finalidade de contribuir no crescimento. O “não” é importante em todas as fases da vida.

Tudo isso parece tão óbvio, mas de óbvio não tem nada, pois as pessoas são complexas; um conjunto de crenças, valores, aprendizados, culturas e muito mais, influencia na formação de cada um. Se existisse bom-senso provavelmente não haveria necessidade de tantas regras, mas afinal, o que é o bom-senso?

O ideal seria viver numa sociedade onde não fosse necessária uma infinidade de regras, mas como muitos princípios para a convivência não são assimilados, precisamos ser limitados por elas.

Certa vez, quando Jesus foi questionado pelos líderes religiosos da época, sobre a lei, ele respondeu:

—“Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. Este é o maior mandamento e o mais importante. E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: Ame os outros como você ama a você mesmo” (Mateus 22.37-39 – NTLH).

Quem sabe em outro artigo falaremos sobre o “sim”. Aliás, não seria o amor o substituto do “não” e do “sim”?!

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A escrita



Por Vanessa Sene Cardoso

Como disse Rubem Alves:"Tenho sempre comigo o meu caderno. Meu caderno é a minha 'gaiola de prender ideias'.Porque as ideias são entidades fugidias, pássaros. Elas vêm de repente e desaparecem tão misteriosamente como chegaram. Não se pode confiar na memória. Se as ideias não forem presas com palavras escritas no papel, elas serão esquecidas."

E para que a mensagem seja entendida, é preciso "tratar" desses pássaros, as ideias, que, por meio da escrita, são transmitidas.Temos aliados que nos auxiliam nesse mister. São sinais gráficos que dão sentido ao que queremos comunicar.

Este vídeo da Associação Brasileira de Imprensa ilustra bem o que o uso de apenas um dos sinais gráficos pode provocar na inteligibilidade de uma ideia. Pode comprometer o sentido da mensagem que se pretende comunicar.



Para você que gosta de desafios:


Um homem rico estava muito mal de saúde. Pediu caneta e papel e escreveu assim:

- “Deixo meus bens à minha irmã não ao meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres”

Afinal, a quem ele deixou a fortuna? Eram quatro concorrentes: a irmã, o sobrinho, o alfaiate e os pobres. O escrito chegou às mãos deles e cada um fez a pontuação que lhe conveio, a fim de receber a herança. Então coloque a pontuação e diga quem ficou com a herança.

OBS.: Recebi este teste por e-mail, mas não sei quem é o autor.


Para melhorar a comunicação escrita, vai uma dica de leitura:

Escrever melhor
Dad Squarisi e Arlete Salvador
Editora Contexto



domingo, 25 de outubro de 2015

O limão e as palavras

Existe alguma relação entre esta fruta e a grafia de nossos pensamentos? Sim e não. Temos a liberdade de associar uma coisa à outra. Depende do quanto damos “linha na pipa” de nossa imaginação. Como nominei este espaço de "Limoeiro", tentarei justificar a escolha.

O processo 

Tudo começa na semente, depois vem a muda, flor, e fruto, numa simples descrição do cultivo. E não termina aí. O fruto tem semente que lançada ao solo dá origem a um novo processo. Uma semente pode resultar num “pomar” de limoeiros.
Com as palavras acontece algo semelhante. Elas são como sementes. Quando as escrevemos é como se estivéssemos lançando-as na terra, elas dão vida aos pensamentos e, compartilhadas, têm o poder de influenciar e provocar mudanças em quem as recebe, assimila e transforma em algo prático para a vida.
Vale ressaltar que o universo foi criado pela palavra de Deus (Hebreus 11.3).

Características do limão

Ele é azedo, mas tempera os alimentos. Seu sabor é marcante e não passa despercebido. Com água e um pouco de açúcar é um ótimo refresco em um dia quente. Ele tem propriedades medicinais que contribuem na desintoxicação do organismo. A cor verde simboliza esperança, nesse caso estou “subjetivando”.
As palavras também marcam a vida das pessoas, podem trazer alívio, clareza, esperança. Podem destruir ou construir um ambiente melhor, provocam transformações.

Para encerrar

Que tal essa comparação? Posso ter forçado a barra para justificar o título do meu blog, mas se para você isso não faz sentido, tenho uma explicação mais simples: limão é a minha fruta favorita.

Por Vanessa Sene Cardoso

O livro

Quem gosta de ler sabe o valor deste simples objeto que pode dar vida à imaginação, despertar sensações, estimular a reflexão, proporcionar conhecimento, gerar indignação, produzir inquietação, fazer rir, chorar, mexer com as emoções, apresentar novas ideias, revelar um mundo novo... ou servir apenas como "passatempo".

Não pretendo abrir mão desta tecnologia.Vídeo extraído da internet.


Comunicação na mediação de conflitos


Por Vanessa Sene Cardoso


Era sexta-feira, fim de tarde, Clarice e Júlia estavam na sala do gestor, sentadas de frente para ele, apreensivas, aguardando o confronto que vinha sendo prorrogado por seis meses. A situação havia chegado ao limite.
           
Voltando no tempo. Como tudo começou.
           
Clarice era secretária da Igreja há onze anos. Gerenciava a rotina administrativa, cuidava da agenda do pastor titular e dos dois pastores assistentes, organizava os eventos, enfim, fazia de tudo, era aquele tipo de funcionária que todo chefe gosta: “mil e uma utilidades”. Tinha segundo grau completo e muita experiência. Era competente, organizada, discreta e de fácil relacionamento. Nunca havia se desentendido com os colegas de trabalho. Todos a admiravam e a tinham como referência. Passava o dia todo na Igreja e, às vezes, quando tinha alguma programação especial, ou quando não dava conta de resolver as pendências em horário de expediente, ficava até mais tarde. Já não tinha tanto tempo para a família e lazer, os primeiros sinais do stress começavam a aparecer.

Com o crescimento da Igreja, mais um pastor estava chegando; agora seriam quatro. Clarice não tinha o perfil contestador nem mesmo gostava de expor suas limitações. O que lhe chegava às mãos era feito com dedicação. Mas como ela andava cansada, tinha algumas falhas de memória, percebeu que precisava tomar uma atitude. Procurou o gestor.
    Com a chegada de mais um pastor será necessário alguém para dividir as tarefas.
Por mais que isso lhe fosse difícil, Clarice precisou admitir que não estava mais dando conta do serviço sozinha.
   Você tem razão — disse o gestor — vamos contratar mais uma secretária.
Clarice ficou satisfeita com a solução para sua sobrecarga de trabalho.

Na segunda-feira seguinte, como de costume, oito horas em ponto estava na sua sala. Clarice era muito detalhista e observadora, gostava de tudo no lugar. Qual não foi a surpresa ao encontrar em cima de sua mesa, uma enorme bolsa pink metálica. Aquilo chamou sua atenção.
           
De repente escutou uma gargalhada que vinha da cozinha.
   Eu amei esse filme também, pastor, é muito engraçado.

Clarice que só entrava na cozinha, que ficava no fim do corredor, quando ia buscar café para servir às pessoas, não aguentou a curiosidade e foi espiar. A dona da gargalhada era uma jovem de uns vinte e poucos anos, cabelo extremamente curto, um corte desalinhado, mas o que mais chamava a atenção eram as unhas da moça, exibindo um esmalte verde. O que era aquilo?! A moça segurava uma xícara de café e entre um gole e outro conversava com o pastor titular da Igreja, na maior descontração.
            Pof...
    — Que barulho foi esse? — perguntou o pastor. Vinha do corredor.
Os dois foram ver o que se passava e deram de cara com Clarice agachada resgatando o quadro com a foto dos presbíteros que havia despencado da parede.
     —   Desculpe, pastor — disse ela sem jeito.
     —   O que você está fazendo aí? — questionou o pastor — venha 
tomar um café conosco, agora você terá mais tempo para isso, pois essa é 
sua nova colega de trabalho. 
   O que? — Clarice não conseguiu disfarçar o espanto.
   Meu nome é Júlia, muito prazer.

Júlia era recém-formada em secretariado executivo, e este era seu primeiro emprego na área. Apesar da formação universitária não tinha experiência. Era uma jovem alegre, descontraída e que valorizava, acima de tudo, os relacionamentos. Gostava de conversar, atender as pessoas, falar ao telefone. Em sua visão esticar um pouco mais a conversa não era perda de tempo. Júlia também era muito criativa, mas um tanto desorganizada. Por mais que tentasse, não conseguia manter sua mesa arrumada. Sempre sobrava um papel ou um envelope fora do lugar. Na primeira semana de trabalho já conhecia todo mundo, sabia um pouco da vida de cada um. Júlia passou a ser a queridinha da Igreja, embora devido a seu temperamento impulsivo, às vezes, tinha alguns atritos, mas tudo terminava bem, exceto com relação à pessoa mais próxima no trabalho.
           
Clarice andava calada, já não tinha tanta paciência com as pessoas. Ficava irritada com tudo. Não podia nem ouvir a risada de sua colega, que ficava à beira de um ataque de nervos. Aquela bagunça de Júlia a tirava do sério. Ela, que sempre fora uma pessoa calma, conciliadora, não entendia suas reações. Afinal de contas agora tinha alguém com quem dividir o trabalho. Mas essa mudança mexeu em sua zona de conforto. As coisas foram piorando e as duas já não conversavam. O gestor percebendo a situação chamou as duas.
   O que está acontecendo?
Júlia começou.
   A Clarice é conservadora, não liga para as pessoas, pega no meu pé o tempo todo, é muito competitiva, acha que invadi o espaço dela...
Antes que terminasse foi interrompida.
   Júlia é imatura, impulsiva, em vez de se concentrar nas tarefas, fica de conversa fiada com todo mundo.
Durante uma hora o gestor ouviu, em silêncio, o desabafo das duas secretárias.  Elas falaram das mágoas que foram acumulando, confessaram o que uma pensava da outra, choraram. Fez-se novo silêncio e as duas fixaram os olhos no gestor aguardando uma solução para o conflito instalado.
   Vocês são completamente diferentes. Como todo mundo, têm suas qualidades e defeitos, e se completam.

Nessa hora as duas se entreolharam assustadas, mas foi como se seus olhos se abrissem. Os membros e órgãos ligados dão vida ao corpo conforme o texto de 1 Coríntios 12. Cada parte é importante.

Clarice e Júlia se dispuseram a ser sinceras e respeitar uma a outra, buscando no diálogo e na transparência a solução de conflitos.

A comunicação se torna eficaz na mediação de conflitos quando há uma pré-disposição das partes em dialogar de forma transparente e respeitosa apesar das diferenças, com o objetivo de servir a Deus e ao próximo. Pense nisso!

“As palavras, tanto faladas quanto caladas, são essenciais” (Philip Yancey).