domingo, 25 de outubro de 2015

Comunicação na mediação de conflitos


Por Vanessa Sene Cardoso


Era sexta-feira, fim de tarde, Clarice e Júlia estavam na sala do gestor, sentadas de frente para ele, apreensivas, aguardando o confronto que vinha sendo prorrogado por seis meses. A situação havia chegado ao limite.
           
Voltando no tempo. Como tudo começou.
           
Clarice era secretária da Igreja há onze anos. Gerenciava a rotina administrativa, cuidava da agenda do pastor titular e dos dois pastores assistentes, organizava os eventos, enfim, fazia de tudo, era aquele tipo de funcionária que todo chefe gosta: “mil e uma utilidades”. Tinha segundo grau completo e muita experiência. Era competente, organizada, discreta e de fácil relacionamento. Nunca havia se desentendido com os colegas de trabalho. Todos a admiravam e a tinham como referência. Passava o dia todo na Igreja e, às vezes, quando tinha alguma programação especial, ou quando não dava conta de resolver as pendências em horário de expediente, ficava até mais tarde. Já não tinha tanto tempo para a família e lazer, os primeiros sinais do stress começavam a aparecer.

Com o crescimento da Igreja, mais um pastor estava chegando; agora seriam quatro. Clarice não tinha o perfil contestador nem mesmo gostava de expor suas limitações. O que lhe chegava às mãos era feito com dedicação. Mas como ela andava cansada, tinha algumas falhas de memória, percebeu que precisava tomar uma atitude. Procurou o gestor.
    Com a chegada de mais um pastor será necessário alguém para dividir as tarefas.
Por mais que isso lhe fosse difícil, Clarice precisou admitir que não estava mais dando conta do serviço sozinha.
   Você tem razão — disse o gestor — vamos contratar mais uma secretária.
Clarice ficou satisfeita com a solução para sua sobrecarga de trabalho.

Na segunda-feira seguinte, como de costume, oito horas em ponto estava na sua sala. Clarice era muito detalhista e observadora, gostava de tudo no lugar. Qual não foi a surpresa ao encontrar em cima de sua mesa, uma enorme bolsa pink metálica. Aquilo chamou sua atenção.
           
De repente escutou uma gargalhada que vinha da cozinha.
   Eu amei esse filme também, pastor, é muito engraçado.

Clarice que só entrava na cozinha, que ficava no fim do corredor, quando ia buscar café para servir às pessoas, não aguentou a curiosidade e foi espiar. A dona da gargalhada era uma jovem de uns vinte e poucos anos, cabelo extremamente curto, um corte desalinhado, mas o que mais chamava a atenção eram as unhas da moça, exibindo um esmalte verde. O que era aquilo?! A moça segurava uma xícara de café e entre um gole e outro conversava com o pastor titular da Igreja, na maior descontração.
            Pof...
    — Que barulho foi esse? — perguntou o pastor. Vinha do corredor.
Os dois foram ver o que se passava e deram de cara com Clarice agachada resgatando o quadro com a foto dos presbíteros que havia despencado da parede.
     —   Desculpe, pastor — disse ela sem jeito.
     —   O que você está fazendo aí? — questionou o pastor — venha 
tomar um café conosco, agora você terá mais tempo para isso, pois essa é 
sua nova colega de trabalho. 
   O que? — Clarice não conseguiu disfarçar o espanto.
   Meu nome é Júlia, muito prazer.

Júlia era recém-formada em secretariado executivo, e este era seu primeiro emprego na área. Apesar da formação universitária não tinha experiência. Era uma jovem alegre, descontraída e que valorizava, acima de tudo, os relacionamentos. Gostava de conversar, atender as pessoas, falar ao telefone. Em sua visão esticar um pouco mais a conversa não era perda de tempo. Júlia também era muito criativa, mas um tanto desorganizada. Por mais que tentasse, não conseguia manter sua mesa arrumada. Sempre sobrava um papel ou um envelope fora do lugar. Na primeira semana de trabalho já conhecia todo mundo, sabia um pouco da vida de cada um. Júlia passou a ser a queridinha da Igreja, embora devido a seu temperamento impulsivo, às vezes, tinha alguns atritos, mas tudo terminava bem, exceto com relação à pessoa mais próxima no trabalho.
           
Clarice andava calada, já não tinha tanta paciência com as pessoas. Ficava irritada com tudo. Não podia nem ouvir a risada de sua colega, que ficava à beira de um ataque de nervos. Aquela bagunça de Júlia a tirava do sério. Ela, que sempre fora uma pessoa calma, conciliadora, não entendia suas reações. Afinal de contas agora tinha alguém com quem dividir o trabalho. Mas essa mudança mexeu em sua zona de conforto. As coisas foram piorando e as duas já não conversavam. O gestor percebendo a situação chamou as duas.
   O que está acontecendo?
Júlia começou.
   A Clarice é conservadora, não liga para as pessoas, pega no meu pé o tempo todo, é muito competitiva, acha que invadi o espaço dela...
Antes que terminasse foi interrompida.
   Júlia é imatura, impulsiva, em vez de se concentrar nas tarefas, fica de conversa fiada com todo mundo.
Durante uma hora o gestor ouviu, em silêncio, o desabafo das duas secretárias.  Elas falaram das mágoas que foram acumulando, confessaram o que uma pensava da outra, choraram. Fez-se novo silêncio e as duas fixaram os olhos no gestor aguardando uma solução para o conflito instalado.
   Vocês são completamente diferentes. Como todo mundo, têm suas qualidades e defeitos, e se completam.

Nessa hora as duas se entreolharam assustadas, mas foi como se seus olhos se abrissem. Os membros e órgãos ligados dão vida ao corpo conforme o texto de 1 Coríntios 12. Cada parte é importante.

Clarice e Júlia se dispuseram a ser sinceras e respeitar uma a outra, buscando no diálogo e na transparência a solução de conflitos.

A comunicação se torna eficaz na mediação de conflitos quando há uma pré-disposição das partes em dialogar de forma transparente e respeitosa apesar das diferenças, com o objetivo de servir a Deus e ao próximo. Pense nisso!

“As palavras, tanto faladas quanto caladas, são essenciais” (Philip Yancey).

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