Por Vanessa Sene Cardoso
Dias atrás, combinei
com uma amiga de visitar uma feira de produtos orgânicos. O que seria algo
simples e corriqueiro, para nós se tornou uma aventura. Vamos comigo!
Outra amiga – vou
chamá-la de Renata – que já havia ido à feira me explicou como chegar lá. “Que
fácil”, pensei. Não vai ter erro. É só passar em frente à casa dela; no fim da
rua virar à esquerda; nesse ponto há três entradas, mas devo seguir na do meio,
e pronto; passando um condomínio residencial já estaria no meu destino. Mal
sabia o que me aguardava.
Depois de me dizer
como chegar à feira, Renata fez uma observação com bastante ênfase:
– Quando estiver
chegando, você vai ter que prestar MUITA ATENÇÃO, pois o lugar é meio ESCURO, e
não tem identificação. Pode acabar passando batido.
Munida dessas
informações e com o auxílio de uma “copiloto” eficientíssima, #partiufeira. Minha amiga e eu fomos
conversando numa boa, passamos pelos pontos de referência que Renata havia nos
dado. Percorremos toda a extensão do muro que cercava o condomínio e... nada.
Eu disse para minha “copiloto”:
– Acho que entendi
errado. Vamos voltar no entroncamento e tentar as outras duas entradas. O que
acha?
Tentativas
frustradas. Era noite e não encontramos ninguém pelo caminho que pudesse nos orientar.
Você pode estar se perguntando: Por que não usou GPS? A bateria do celular estava
por um fio. Que mancada, né?! Antes de descarregar completamente, consegui ligar
para Renata.
– Seguimos as suas
orientações e não encontramos a feira – eu disse.
Renata repetiu a
explicação. Fiquei intrigada: Onde ficaria a tal feira? Lá fomos nós novamente!
Enquanto eu dirigia, minha amiga olhava através da janela do carro procurando um
ajuntamento de barraquinhas em cada viela pela qual passávamos. Já estávamos
saindo do bairro, chegando a um lugar ermo. Minha amiga e “copiloto”, quase com
o pescoço deslocado de tanto olhar para fora, cogitou:
– Pode ser que hoje,
excepcionalmente, a feira não esteja funcionando.
Ligamos para Renata mais uma vez, e ela se dispôs a
nos acompanhar para mostrar o caminho. Voltamos ao ponto de partida,
encontramos nossa amiga que, prontamente, tomou a dianteira. Seguimos o carro
dela. O trajeto que tínhamos feito
estava certo. De repente, Renata acionou a seta para a esquerda. Comentei com
minha amiga:
– Não
acredito que ela vai entrar onde estou pensando.
Do lado esquerdo da pista havia uma galeria de
lojas muito bem iluminadas, estacionamento na frente, quase um mini Shopping
Center. Nas nossas idas e vindas à procura da feira orgânica passamos, pelo
menos quatro vezes, em frente ao prédio. Com base na descrição de nossa amiga
Renata, jamais imaginamos que pudesse ser naquela galeria a tal feirinha
orgânica. Afinal de contas, se tinha algum lugar naquela região que não
passaria despercebido era ali. Parecia um enorme painel de neon em meio à escuridão!
O “ocorrido” rendeu boas risadas, comentários
carregados de bom humor, reflexão, e esta crônica. Ficou evidente que, mesmo
tendo ferramentas e linguagem para uma comunicação eficiente, estamos sujeitos
a encarar um “boi na linha”.
Há um conceito muito repetido quando se fala sobre
comunicação: “Comunicação não é o que você fala, mas o que o outro entende”. Renata
achou que foi clara, e eu estava certa que havia entendido. A explicação da
rota foi simples. Não teve erro. O ruído na nossa comunicação se deu na descrição
do local. Em nenhum momento ela mencionou barracas; essa foi uma dedução a que
minha amiga e eu chegamos. Quem disse que toda feira tem barracas?! Todos nós partimos
de nossos referenciais. O que Renata queria dizer é que a sala onde estava
instalada a feira não tinha identificação. Talvez se tivesse falado que ficava em
uma galeria teria sido o suficiente. Ela, no entanto, deu alguns detalhes na
intenção de facilitar a identificação, com base em sua experiência quando
esteve a primeira vez no local.
Não estamos livres de nos depararmos com “bois na
linha” - são até muito comuns ruídos na comunicação - mas podemos fazer das
situações que passamos uma “lousa”. A lição que ficou desse episódio foi que a
objetividade e a prática de fazer perguntas, investigar são ótimos recursos
para uma comunicação eficaz.
Ah! Em um caso como esse, ter um GPS e o celular
carregado à mão também ajuda.
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